Mais um alerta
Metade da fazenda da atriz Lúcia Veríssimo foi consumida pelas chamas provocadas por uma guimba de cigarro jogado no mato
O incêndio que devastou metade da fazenda da atriz Lúcia Veríssimo, em Chiador, no fim de semana – começou no sábado e só foi controlado na manhã de domingo – deve servir de alerta para outros sinistros que podem ocorrer neste período do ano. O mato está secando e as chuvas são cada vez mais esparsas. É a combinação perfeita, sobretudo quando há a participação humana. De acordo a atriz, um grupo de pessoas teria entrado no local para caçar e derrubado bingas de cigarro na mata, o que ocasionou o fogo.
Entrar em área privada sem autorização já é um problema e agir sem avaliar qualquer consequência é mais grave ainda. Não fosse a atuação dos bombeiros, que Veríssimo chamou de heróis, a situação seria muito mais grave. Os responsáveis não foram identificados, mas existem outros que agem da mesma forma.
Os prejuízos ainda não foram avaliados, mas sem autoria, o dano fica por conta única e exclusiva da proprietária, que alerta para a necessidade de preservação da natureza. A mata consumida pelas chamas era nativa e fazia parte do acervo da Mata Atlântica.
Num momento em que a discussão ambiental tornou-se agenda prioritária, ainda há os que agem sem fazer qualquer avaliação dos seus gestos. Os eventos climáticos são resultado de grandes, médias e pequenas ações humanas e de estados nacionais. Quando se recusam a cumprir protocolos firmados em cúpulas, como as de Glasgow – para ficar na mais recentes -, os dirigentes estão dando margem aos riscos que decorrem desse descaso.
As médias decisões partem dos administradores públicos dos estados e municípios, enquanto as demais são reservadas à população, que precisa também fazer a sua parte. A guimba certamente não teria sido jogada no mato por alguém ciente das consequências.
As chuvas do Rio Grande do Sul e a seca na região Amazônica e no Pantanal, não são um capricho da natureza e sim fruto de um desequilíbrio do clima que já ocorre há tempos. De acordo com os institutos de Meteorologia, o El Niño, a quem foi imputada a conta dos temporais, termina esta semana, mas já em julho será a vez da La Niña, de resultados imprevisíveis.
Por várias vezes, a Tribuna vem colocando essa questão em sua agenda, sobretudo nesse espaço, alertando que a questão climática precisa ser levada a sério. Não basta atuar sob o viés reativo, isto é, tomando providências depois da tragédia. Os brasileiros reafirmaram a sua aptidão pela solidariedade em prestar socorro ao povo gaúcho, mas está lógica precisa ser invertida. A prevenção é a forma mais adequada para se salvar vidas e evitar os danos econômicos que não se esgotarão com o fim das chuvas. O Rio Grande do Sul, a despeito da pujança de sua economia, vai levar pelo menos um ano para se recuperar.
Todos os anos já se sabe que no primeiro semestre, especialmente até abril, as chuvas são mais intensas, mas pouco se faz ou fez para evitar suas consequências. Nas regiões serranas o noticiário é pródigo em divulgar soterramentos e deslizamentos que tiram vidas. Os recursos aparecem, mas sua aplicação nem sempre é levada adiante.
Com tantas lições, ainda não se encontrou o caminho adequado, o que é preocupante. As eleições municipais têm, necessariamente, que colocar a questão ambiental em sua agenda, pois os novos dirigentes ou que tiverem o mandato renovado precisarão se comprometer profundamente com esse tema.