Pacto nacional
Governo, Judiciário, MP, polícias e comunidade precisam atuar de forma integrada para enfrentar o crime organizado
A Polícia Federal não especificou as cidades em que executou uma operação especial de combate ao tráfico internacional de drogas, mas o simples fato de a região estar na rota dos criminosos é preocupante. De acordo com a “Conexão Penha”, em alusão à rota percorrida pelos traficantes, a cocaína entrava no país pela fronteira com a Bolívia, em Rondônia, e era distribuída a traficantes da Zona da Mata Mineira e do Complexo do Alemão, na Penha, no Rio de Janeiro. Pelo menos dois mandados de busca e apreensão foram expedidos pelo juiz da 2ª Vara Federal de Juiz de Fora, resultando na detenção de um casal que não tem domicílio em Juiz de Fora.
As conexões, ante as constantes ações dos organismos de segurança, têm sido alteradas sistematicamente, o que pode ser a causa de a Zona da Mata ser uma nova rota. No entanto não há novidades, pois já têm sido detectados casos em que a região se apresentou como uma alternativa para o escoamento da cocaína.
Pelo lado positivo, tais apreensões indicam que a polícia está atenta a esse novo cenário e tem agido para coibi-lo. Por outro lado, o fato de Minas estar no caminho da droga exige medidas preventivas forjadas em relatórios de inteligência. O Estado, que tem um histórico de sucesso no enfrentamento ao crime, deve ficar atento, já que o crime organizado, por vários fatos registrados recentemente, tem se mostrado num estágio de grande capilaridade.
Na semana passada, a prisão dos dois fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, jogou luzes nessa questão. Eles foram acolhidos por grupos faccionados e só não foram para o exterior ante a pressão das investigações. Há processos coordenados que exigem uma pronta resposta do Estado.
Em entrevista ao matutino “O Globo”, o secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubo, advertiu que o crime já está no mercado formal, atuando até mesmo no mercado financeiro, o que exige um pacto nacional acima do viés ideológico para o seu enfrentamento. No seu entendimento, polícias, Judiciário e Ministério Público precisam atuar de forma coordenada contra facções.
Procurador aposentado, com histórico de combates às facções, Sarrubo adverte que a Justiça precisa entender que está lidando com estruturas mafiosas que não estão mais nos postos de gasolina ou no mercado de vans. Estão, agora, até o mercado financeiro. “Precisamos estar juntos. O grande desafio é a troca de dados: abrir o coração um para o outro, trocar informações sobre inteligência.”
Na mesma entrevista, o secretário aponta três vertentes para enfrentar o crime organizado: combater a atividade criminosa em sua totalidade; ir atrás da lavagem de dinheiro e, por fim, combater a corrupção de agentes públicos.
Sarrubo entende ser uma missão coletiva, mas conhece os desafios. Hoje, a despeito dos avanços, muitos estados continuam atuando apartados dos demais, com políticas próprias de segurança que nem sempre são bem-sucedidas.
O Governo federal tem papel assertivo nesse processo, pois precisa se despir do viés ideológico e chamar todos os estados e os municípios para um diálogo capaz de produzir um projeto único de ação.