Juiz-forano descobre após 5 dias ter sido atingido por bala perdida
Médico responsável pela retirada do projétil da cabeça do paciente relata procedimento cuidadoso para evitar sequela
O juiz-forano Mateus Facio Rezende, de 21 anos, que descobriu apenas cinco dias depois ter sido atingido por bala perdida na véspera do ano novo, quando estava nas areias da Praia do Forte em Cabo Frio, na Região dos Lagos, ainda se recupera da cirurgia realizada no último dia 5, no Hospital Albert Sabin, em Juiz de Fora. Um dia depois de sua história surpreendente ter ido parar no noticiário nacional, ele confessa à Tribuna, neste sábado (20), que “a ficha ainda não caiu”.
“Não senti dor nem nada do tipo, só a notícia que me abalou um pouco, porque não esperava”. Por meio da assessoria, o neurocirurgião Flávio Falcometa destaca que o procedimento para retirada do projétil foi “menos difícil“, embora houvesse preocupação em não causar dano maior ao paciente, já que ele estava sem déficit neurológico, movimentando braços e pernas.
Mateus cursava administração na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e está prestes a começar a Faculdade de Medicina na Unipac. Ele conta ter viajado de carro com amigos para Cabo Frio no dia 30 de dezembro. Na véspera do ano novo, estava curtindo a Praia do Forte e, quando se preparava para ir embora, por volta das 18h30, sentiu “uma explosão na cabeça”. “Foi como se alguma coisa tivesse batido bem de leve, mas dado muito barulho. Na verdade, o barulho foi a penetração (da bala), que eu não imaginava”.
Um médico que estava junto estancou o sangramento e viu não necessitar de ponto, porque o corte era muito pequeno. “Ele disse para eu ficar em observação e, se tivesse alguma alteração, como dor de cabeça, tontura ou náusea, para procurar um médico”, diz Mateus.
Rotina foi mantida
O juiz-forano pontua que o grupo chegou a criar “teorias” sobre o que teria batido em sua cabeça. “Primeiramente, achamos ter sido pedrada ou algo do tipo, porque, se fosse algo muito grande, a gente iria localizar por perto. Já a pedra, podia ter batido e sumido na areia”. Pensando se tratar de “uma brincadeira de mau gosto ou algo do tipo” o juiz-forano prosseguiu com os planos do réveillon, comemorado em Búzios.
“Segui vida normal. Voltei para o apartamento, dormi, acordei no outro dia, fui para a praia, não alterei em nada a rotina.” No dia 2, o estudante ainda voltou a curtir sol e mar, antes de pegar a estrada e o tradicional congestionamento da Região dos Lagos em feriados prolongados. Dirigiu os cerca de 300 quilômetros até Juiz de Fora e, mesmo assim, não sentiu qualquer alteração. Trabalhou no dia 3 e ainda dirigiu em bate e volta ao Rio de Janeiro para resolver negócios.
“No dia 4 senti a primeira sinalização de algo. Trabalhei pela manhã e cheguei cansado. Tirei um cochilo à tarde e, na hora em que acordei, meu braço (direito) estava meio bobo, fazendo uns movimentos involuntários. Achei aquilo estranho e pedi minha mãe para me levar ao hospital”. Mateus também sentiu espasmos musculares no mesmo braço.
Já no Albert Sabin, o juiz-forano contou ao médico seus sintomas e a história sobre o misterioso ferimento no couro cabeludo. “Até então, não havia nem passado pela minha cabeça que podia ser um tiro. Uma coisa que nunca iria imaginar, até porque eu estava me sentindo bem. Achava que quando uma pessoa leva um tiro sente muita dor e percebe. Mas, pelo visto, não foi o que aconteceu comigo.“
Uma tomografia revelou o inesperado: um projétil alojado no crânio. Mateus foi encaminhado ao CTI, e a cirurgia para retirada da bala foi realizada no dia seguinte. “Depois fiquei dois dias no CTI e outro no quarto. Fui liberado para recuperação em casa.”
Cirurgia teve risco
O neurocirurgião responsável pelo procedimento reforça que o risco da cirurgia era causar um dano neurológico que o paciente não tinha. “Havia preocupação se houvesse uma hemorragia/sangramento durante o ato operatório ou até posteriormente. Outra preocupação era que somente o simples fato da manipulação do cérebro para retirar a bala poderia ocasionar dano na região e consequências neurológicas, como perda ou dificuldade de movimentação do braço e/ou perna.” Mas tudo transcorreu com sucesso e, atualmente, o paciente não tem risco de sequela ou déficit neurológico, porque “geralmente, se manifesta imediatamente após a cirurgia ou em até 24h-48h pós-cirurgia decorrente de um sangramento”, detalha Flávio Falcometa.
Mateus retirou os pontos na última quinta-feira (18). “Estou começando a poder sair de casa. Aos poucos estou evoluindo, dia após dia, para ganhar confiança e ver que não estou sentindo mal. A cada dia tento andar um pouco mais e fazer alguma atividade. Um dia dar uma vota no quarteirão, no outro, duas”, exemplifica. Como dirige, o médico também recomendou ao estudante ir conduzindo aos poucos, por perto. “Até pegar confiança para ir ao mercado e à padaria e, depois, poder rodar normalmente.” A expectativa dele é retomar sua rotina por completo daqui a 20 dias. “Só tem uma restrição de 30 dias para atividade física, mas já já estou 100% de novo”, comemora.