Linguiças artesanais: no almoço, no lanche e como petisco
A linguiça foi considerada patrimônio em Juiz de Fora e Rômulo, da Soberana, sugere três formas e fazê-la
Antes mesmo de Rômulo Magalhães abrir o portão da casa onde mora, dava para sentir que a linguiça já estava sendo feita, e no fogão a lenha. Ali onde mora, no Náutico, essa cena se repete um tanto de vezes. E desde muito tempo. Praticamente antes de ele nascer, sua avó já assumia essa posição. Fazia a carne do porco que criava em casa, sobretudo em datas mais especiais. Como teve 11 filhos, pensava em formas diferentes de fazer a carne suína e alimentar a turma toda. Uma delas era a linguiça: a preferida pela galera.
A casa tem até um daqueles fornos iglus que deixava qualquer preparo mais especial. Mas não tinha jeito: a linguiça pegou como herança e foi passando de geração em geração. “Ela era processada aqui, nesta varanda”, conta Rômulo, enquanto termina de fritar as linguiças, em uma daquelas panelas de pedra, no fogão a lenha.
Tinha quem preferia só degustar, outros só olhando o passo a passo da avó, curiosos, para, quem sabe, pegar o jeito. Ramom Magalhães, o irmão de Rômulo, pegou. Rômulo, que fez engenharia de produção, já tinha essa vontade de ter um negócio próprio. E, até então, a linguiça que sua avó fazia era só para o círculo familiar mesmo. Mas ele pensou que seria interessante, quem sabe, fazer desse costume uma empresa. E, como era para ser, as coisas foram se encaixando.
Um primo estava com uma embutideira e uma máquina de moer paradas. “Sugeri que a gente fizesse só para testar.” E fizeram, em 2017. “O primeiro teste foi também nesta mesa aqui”, aponta Rômulo, ainda no fogão a lenha, e o cheiro de linguiça cada vez mais forte. A avó, que ainda era viva, deu o aval e, inclusive, incentivou muito essa incursão na profissionalização do que sempre fez. E o primeiro teste deu super certo. A avó foi a que comprou grande parte da primeira remessa e deu para várias pessoas: forma de apoiar e, ao mesmo tempo, disseminar a novidade.
Aos poucos, a linguiça foi ganhando as pessoas para além do Náutico. Como o espaço da casa onde mora é grande, começaram a pensar em uma fábrica mesmo, e eles foram atrás do selo do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) e colocaram a mão na massa para alavancar a empresa. Na hora de pensar no nome, mais uma vez, pensaram em homenagear aquela que deu origem a tudo, a avó, e puseram o nome de Soberana, forma como chamavam a matriarca.
Prestes a completar 7 anos, a Soberana segue sendo uma empresa familiar. E Ramom, como Rômulo diz, que fica na retaguarda, garante que ainda mantém o tempero de sua avó. Claro que muda a lógica de fazer o embutido para a família e para vender. Mas a essência segue ali.
Nesse tempo, a Soberana foi ganhando recheios, outros temperos e lugares novos, na região toda. “E não é só fazer linguiça”, garante Rômulo. Tem mais uma série de burocracias que envolvem ter uma empresa nesse ramo e, além disso, rodar com ela. Mas tem dado certo, e eles gostam. Além de venderem, seguem tendo a linguiça como o carro-chefe da casa e o prato mais especial. Inventam moda: fizeram até linguiça com goiabada e requeijão, só para eles mesmo, e garantem que ficou boa. Quem sabe não passam a vender?
E não é só a família de Rômulo e Ramom que tem a linguiça como fonte de memória e sustento. São várias que seguem essa tradição. Não à toa, no começo deste ano, a Prefeitura de Juiz de Fora declarou a linguiça artesanal da cidade patrimônio imaterial e cultural e definiu que 15 de julho passa a ser o Dia da Linguiça Artesanal. A proposta é proteger e preservar a tradição na cidade, e teve autoria do vereador Cido Reis (PSB).
Para celebrar, Rômulo, então, sugere alguns pratos que levam linguiça e que são tradição também em sua casa.
Na refeição
A sugestão deles para o almoço, e vale para o jantar, é um clássico: arroz branco, feijão, angu, taioba e, claro, a linguiça. Não tem erro.
No lanche
Para a noite, ou mesmo no café da tarde, a dica é o também tradicional pão com linguiça. E, aqui, as linguiças recheadas dão um toque a mais. O que deixa mais gostoso ainda são os molhos. Eles usam ketchup e mostarda, no pão de sal.
Como petisco
Para acompanhar uma cerveja, a melhor das dicas é fazer um angu mais firme, cortá-los, na travessa mesmo, em pequenos cubos. Em cima de cada cubinho, colocar uma linguiça – a tradicional mesmo. Para quem gosta, uma pimenta cai super bem. E o melhor jeito de se comer é inteiro, para sentir a combinação toda.