Cartas na mesa
A discussão ambiental precisa ser tecnicamente aprofundada para fugir da politização – seja de qual lado for – e garantir a capacidade energética do país
Ao fazer um balanço das atividades da Federação das Indústrias de Minas Gerais em 2023, o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, colocou à mesa uma questão que, de fato, merece melhor discussão não apenas por sua relevância, mas também pelo viés político que tomou: a construção de hidrelétricas. Participante da Cop28, o empresário denunciou o uso político da questão advertindo que o país perde uma grande oportunidade de se tornar autossustentável na geração de energia limpa e advertiu para as consequências no futuro, já que, no seu entendimento, muitos defensores do meio ambiente estão – ao invés do propósito – provocando sérios riscos para o meio ambiente com sua intransigência.
A questão, de fato, precisa não apenas ser discutida em profundidade como também ser pauta permanente das agendas ambientais num momento em que o mundo assiste com perplexidade os resultados do efeito estufa, tema que está à mesa de debates há pelo menos 30 anos. Em 1992, quando o Brasil sediou a Eco-92 já se antecipavam os alertas sobre os custos da inação humana no meio ambiente que poderiam chegar um ponto de não retorno envolvendo o clima.
A provocação do dirigente da Fiemg deve, pois, ser avaliada em profundidade em razão do potencial do país na geração de energia renovável. Há, sim, vantagens e desvantagens, mas já se sabendo dos pontos críticos é possível tomar providências para mitigação dos danos. As hidrelétricas são uma importante fonte de energia por usarem um recurso renovável para geração de energia de eletricidades e capazes de substituir os combustíveis fósseis, ora numa grande encruzilhada não apenas pelos seus efeitos, mas também por sua perenidade: não são renováveis e chegará um momento em que a produção entrará em xeque, mesmo diante da descoberta de novos poços, inclusive no Brasil.
Entre vantagens e desvantagens, se forem pesados os dois lados, é possível pender a balança para o uso adequado dos rios, recurso no qual o Brasil é um dos campeões. É possível conciliar o desenvolvimento regional com energia confiável e sustentável.
Ademais, como destacam todos os manuais, as barragens podem armazenar água permitindo o controle da produção de energia e até mesmo o curso dos rios. Para um exemplo local, a represa de Chapéu D’Uvas é fundamental no controle do fluxo de águas do Rio Paraibuna. Sem ela, a cidade – mesmo com todas as políticas de drenagem – seria foco de inundações mais agudas no período crítico das chuvas.
Não se ignora o impacto na fauna e na flora com a alteração do ecossistema quando se trata de grandes projetos que levam, ainda, ao deslocamento de comunidades locais. Mas é necessário avançar na discussão, como propõe Roscoe, por já se saber os impactos e o que pode ser feito. Quando se construiu Itaipu, vários impasses de viés ambiental e político – sobretudo por envolver no mínimo três países, foram colocados em discussão. Hoje, a hidrelétrica é uma das principais geradoras de energia para o Brasil e para o Paraguai.
O que não pode é elaborar projetos a toque de caixa, sem se discutir as consequências. Falhas estruturais das barragens podem ocorrer e, em vez de conter, provocar inundações e consequências ambientais e humanas. Em se sabendo disso, é possível construir usinas com toda a segurança para o mútuo benefício.
Quando a discussão ambiental se torna mais aguda e política – com países poluidores ditando regras para o Brasil -, é necessário ir adiante, sob o risco de ficarmos para trás na geração de energia. O país tem uma das maiores faixas de aproveitamento de energia solar e também eólica e aproveitamento de todas essas frentes pode nos assegurar uma estratégica vanguarda e um país capaz de se afastar de poluidores como o próprio petróleo e das usinas termoelétricas – estas sim, de grave implicação ambiental.