Morte nas estradas
Sem divisória nas pistas, o risco de acidentes se acentua; é preciso insistir não apenas na privatização, mas na implementação de medidas que todos sabem ser necessárias
Na última quinta-feira, já pelo final da tarde, uma ambulância e um caminhão de carga se chocaram na altura da Região de Perobas, em Santos Dumont. Chovia no momento. O saldo foi trágico: cinco pessoas morreram – todas estavam na ambulância. As causas que levaram ao acidente ainda serão alvo de perícia, mas é praticamente certo que se houvesse separação das pistas o resultado poderia ser outro.
Até quando os usuários da BR-040, no trecho em Juiz de Fora e Belo Horizonte vão contar os mortos? Os muitos relatórios produzidos antes e depois da privatização levam às mesmas conclusões: a rodovia precisa passar por obras em quase toda a sua extensão. Perto da mesma Santos Dumont, quatro viadutos estão defasados por terem sido construídos ainda no tempo da BR-3, que Tony Tornado consagrou já falando de seus acidentes. Continuam os mesmos. Não há pistas de escape e, o mais grave, salvo em regiões pontuais – poucas por sinal – as pistas são separadas por muretas.
O Governo Federal anunciou para o dia 28 de fevereiro a abertura dos envelopes para uma nova rodada de privatização, já que a atual concessionária, a Via 040, há pelo menos dois anos pediu para deixar a gestão da via sob vários argumentos, entre eles a inviabilidade econômica do projeto que, no atual estágio, lhe dá a concessão entre Juiz de Fora e Brasília, no Distrito Federal. A despeito dos muitos pedágios, a empresa argumenta problemas de ordem financeira para cumprir uma pauta tão extensa de obrigações.
Pelo novo formato, a etapa a ser leiloada, no início de 2024, envolve um trecho de apenas 260 quilômetros, mas marcado por uma série de problemas. Além das pontes e da falta de separação das pistas, há a perversa convivência com veículos de cargas das mineradoras entre Conselheiro Lafaiete e Belo Horizonte. Trata-se de uma das etapas mais perigosas do percurso.
Às famílias que ora choram os mortos da quinta-feira se juntam às tantas outras que viram parentes e amigos vitimados na perigosa via. Não há novidades quando todos sabem as causas. O problema está na resolução destes muitos problemas. Quando a Via 040 passou a operar, acreditava-se que a história dos acidentes ficaria para trás, já que o contrato de concessão implicava em várias ações. Pouco se fez e a dúvida é saber se o vencedor do próximo certame vai cumprir a agenda.
A pergunta recorrente também permanece: o que a instância política e os diversos governos que passaram por Brasília fizeram? A Assembleia Legislativa já chegou a nomear uma comissão especial para avaliar providências. O relatório, que poucos conhecem, não foi cumprido e o Governo não tem como desconhecer o problema. A concessionária também não.
A pergunta no ar é quando alguma coisa será feita, sobretudo por não serem demandas recentes. Há décadas a situação vem sendo registrada no livro de ocorrências da Polícia Rodoviária Federal, nas páginas impressas e digitais dos jornais ou nas imagens das televisões.
É fato que o Brasil tem um expressivo passivo nas rodovias, mas no caso em questão, a situação se agrava por ser uma rodovia com pedágio o que, em tese, implicaria em soluções, como ocorre, especialmente, nas estradas que cortam o Estado de São Paulo. Aqui, não. Paga-se para morrer.