Estado paralelo
O crime organizado amplia suas ações pelo país afora exigindo resposta rápida do Estado formal com medidas repressivas e implementação de projetos de viés social
As primeiras linhas de investigação da chacina na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, na qual três médicos foram assassinados a sangue frio, indicam ter sido um engano, isto é, foram confundidos com os verdadeiros alvos do crime. As polícias do Rio de Janeiro, de São Paulo e até mesmo a Polícia Federal avaliam outros cenários, mas até agora não encontraram qualquer motivação, a despeito de alguns links com a política por ser uma das vítimas irmão de uma deputada do Psol.
Entretanto, seja qual for a motivação, fica explícito o baixo valor da vida numa das principais metrópoles do país. São recorrentes os casos de violência, a maioria motivada pela disputa de território entre traficantes e milicianos e destes contra a polícia. No fogo cruzado, dezenas de pessoas já perderam a vida somente este ano.
A Bahia, especialmente a capital Salvador, vive situação semelhante, com chacinas constantes por conta do enfrentamento dos bandidos com as forças de segurança. Em São Paulo, até hoje a Operação Escudo, na Baixada Paulista, continua produzindo vítimas.
O Plano de Segurança anunciado no início da semana pelo Ministério da Justiça, prevê a ampliação dos recursos para a segurança pública, construção de novas unidades prisionais e ações para integração dos bancos de dados das polícias. São medidas apropriadas, mas insuficientes, uma vez que o enfrentamento à violência não se faz exclusivamente com as necessárias ações repressivas.
Pelo país afora há populações inteiras reféns do crime organizado, sendo submetidas ao poder do Estado Paralelo que se faz presente especialmente nas regiões periféricas, nas quais, em vez dos serviços formais, a distribuição seja de água, luz, internet ou energia elétrica é feita pelos traficantes ou agentes da milícia. Tal processo continua em ascensão mesmo após ações como a intervenção no Rio de Janeiro, cujos resultados foram mínimos.
Agora fala-se na participação da Força Nacional no policiamento de comunidades como as da Maré e fiscalização da Avenida Brasil – o maior corredor urbano do Rio de Janeiro – com a participação da Polícia Rodoviária Federal. Não há garantias de resultado.
A ausência do próprio Estado provocou situações praticamente irreversíveis. Minas ainda não vive tal situação por conta do trabalho de suas polícias, que se antecipam aos fatos e rejeitam a glamourização do crime. Mesmo assim, é necessário ficar atento, já que o crime organizado está se capilarizando pelo país afora sem exceção.
Os serviços de informações estão cientes desse processo e o que se espera são medidas preventivas para inibir tal propagação. Como já foi dito neste mesmo espaço, a integração dos órgãos públicos é fundamental para garantir serviços, educação e ate serviços religiosos nas áreas críticas, pois só com todos esses processos e, necessariamente, a ação da polícia, será possível virar o jogo.