A volta das chuvas
Com a mudança climática, que se intensifica com o fenômeno do El Ñino, as cidades precisam estar aptas a enfrentar o ciclo das águas com previsões de maior intensidade
O temporal fora de época registrado na Região Sudeste no fim de semana, inclusive em Juiz de Fora, é um claro indicativo do período das chuvas a ser inaugurado já na segunda metade de outubro. De acordo com os institutos de meteorologia, uma nova frente fria deve chegar à região na semana que vem, o que, provavelmente, vai implicar em novas precipitações.
Com o El Ñino, que já está em pleno curso, as mudanças climáticas vão se acentuar e as chuvas devem ser mais intensas no início do ano que vem. Por isso, é fundamental que as cidades se preparem para os novos tempos, a fim de evitar situações irreversíveis, como tragédias do porte das que ocorreram na Região Serrana do Rio de Janeiro – Petrópolis – e na Baixada Paulista, especialmente em São Sebastião.
O país tem sido palco de uma série de eventos graves em decorrência do despreparo em enfrenta-los. Em alguns casos, por leniência dos administradores que deixam a tomada de decisões para última hora. Em outros, por desvios de objetivos. Os recursos chegam, mas acabam indo para outras frentes deixando o principal em segundo plano. A questão política tem forte apelo nessa discussão, o que já é visto em algumas regiões.
Única cidade imperial do país e devidamente planejada para tal fim, Petrópolis convive com problemas provocados pelas chuvas há décadas, fruto da ocupação desordenada de suas encostas. Em 1988, as inundações registraram 171 mortos. Estes números foram superados no ano passado, quando 231 pessoas morreram e milhares ficaram desabrigadas. Pouco se aprendeu com tais acontecimentos. Na volta das chuvas, os discursos continuam os mesmos.
Com a sofisticação dos equipamentos meteorológicos, é possível fazer previsões com mais prazo, mas é vital que os municípios se preparem com grande antecedência, inclusive na elaboração de projetos para a retirada de moradores das áreas críticas. As metrópoles, principalmente, registram ocupação desordenada que, ao fim e ao cabo, acabam gerando passivos sociais de grande monta.
Como prevenir continua sendo melhor do que remediar, faz bem a Prefeitura de Juiz de Fora em ampliar os serviços de dragagem dos rios e córregos, a fim de facilitar o escoamento das águas. Os serviços de drenagem também são fundamentais, embora sejam projetos de longo e médio prazos, que demandam repasses da União. As obras preliminares estão em curso e já deverão mitigar os transtornos dos anos anteriores.
Cortada por uma rede de rios cobertos pelo asfalto, a cidade, agora, vive um momento de desassoreamento que deve produzir resultados positivos, como é o caso da região de Santa Luzia e também do Bairro Industrial. São dois pontos críticos que há anos convivem com inundações. O Barro Industrial ainda tem o agravante de estar abaixo do nível do Paraibuna e a qualquer chuva de grande intensidade vive o drama do refluxo das águas.
Na entrevista que concedeu à JFTV, canal de televisão da Câmara Municipal, no último domingo, a prefeita Margarida Salomão anunciou a implementação de uma série de ações que passam até mesmo pela montagem de barragens dique para evitar tais problemas. É um desafio que passou por vários mandatos e que agora é objetivamente enfrentado.
Como a cidade se situa em um vale, certamente há outras demandas que precisam ser combatidas num processo permanente para evitar maiores danos.