Grama recebe o Festival UniĆ£o Cultural
Evento vai acontecer neste sƔbado, a partir das 10h30, na praƧa do bairro
Negro Lee acha que ainda tem muito Santos Dumont a ser descoberto por aĆ, na quebrada. SĆ³ falta oportunidade. Para ele, o hip-hop, por isso, pode ser aeroporto: faz decolar. Em seu Bairro Grama, Zona Nordeste, lugar onde cresceu, se desenvolveu e, entĆ£o, se entendeu como artistas, ele acredita que ainda existem muitos que nĆ£o perceberam que, no fundo, sĆ£o artistas. NĆ£o tiveram um empurrĆ£o. Uma palavra: “Vai nessa”. Andando pela comunidade jĆ” viu muita coisa. Inclusive meninos que foram salvos pela arte. Alguns deles atĆ© impulsionados pelo seu incentivo. E ele acha pouco: quer aumentar seu alcance, falar em mais ouvidos, rimar mais ainda. Fazer eventos do Grama funciona como uma vitrine: mostrar que Ć© possĆvel, a arte Ć© um caminho possĆvel mesmo em ambientes perifĆ©ricos. A Batalha da UniĆ£o jĆ” acontecia lĆ” com esse intuito. Mas o sonho cresceu, e virou o Festival UniĆ£o Cultural: evento que vai acontecer neste sĆ”bado (22), na PraƧa Ćureo Gomes Carneiro. Na programaĆ§Ć£o, diversos artistas do Grama que vĆ£o ocupar a principal praƧa do bairro durante todo o dia.
A poesia foi o primeiro contato Ćntimo de Negro Lee com a arte. Foi ela que o fez se tornar rapper e conhecer o hip-hop. Isso aconteceu muito impulsionado pelo Grama que, naquela Ć©poca, ainda nem tinha uma cultura tĆ£o forte como agora. “Mas tudo o que eu vivi no Grama alimenta minha arte”, afirma. Para ele, produzir evento em seu bairro de origem Ć© como uma missĆ£o mesmo. De maneira a abraƧar todas as manifestaƧƵes culturais do Grama, a Batalha Cultural jĆ” tinha essa proposta de unir as artes, apesar de manter foco sobre a cultura hip-hop. O Festival UniĆ£o Cultural segue nessa e sĆ³ amplia seu tamanho.
Essas batalhas anteriores serviram, alĆ©m de cavar um espaƧo, para escolher alguns dos nomes da programaĆ§Ć£o. “A gente faz a Batalha da UniĆ£o hĆ” quase dois anos. Nisso, a gente foi percebendo os artistas que se destacavam, aqueles que se empenhavam desde a participaĆ§Ć£o Ć divulgaĆ§Ć£o, por exemplo. Eu sou ainda estudante de marketing e, claro, ajudo nesse processo de divulgar. A gente foi vendo quem aderia isso para escolher e entrar na primeira ediĆ§Ć£o. Ainda assim, tem muita gente que vai ficar de fora. Por isso a gente quer mais eventos para contemplar outros nomes.”
ProgramaĆ§Ć£o
O UniĆ£o Cultural vai durar o dia inteiro: comeƧa Ć s 10h30, com atividades voltadas Ć s crianƧas, com brinquedos e ainda apresentaƧƵes de palhaƧaria, e se estende atĆ© 22h. Ć a partir das 13h que comeƧam as atividades culturais. Vai ter show com o grupo NĆ³s por Noiis, formado por trĆŖs MCs do Grama, com o cantor e compositor Gregori Lores, com a Afrodite e sua banda, apresentaĆ§Ć£o do DJ N9V3, e, como nĆ£o poderia faltar, apresentaĆ§Ć£o do Quinta DimensĆ£o, grupo de rap juiz-forando que, inclusive, assina a produĆ§Ć£o do evento, bem como da Batalha da UniĆ£o, tendo Negro Lee como um de seus integrantes.
AlĆ©m disso, tem apresentaĆ§Ć£o de breaking dancing. “A ideia Ć© apresentar essa modalidade nĆ£o apenas como um estilo de danƧa, mas tambĆ©m como um esporte respeitado”, afirma Negro Lee. Uma exposiĆ§Ć£o de arte tambĆ©m vai ocupar a praƧa e um circuito de skate vai premiar os participantes. VĆ”rios grafiteiros ainda foram convidados para pintar a parede de uma casa de idosos do bairro, contando a histĆ³ria de Grama na imagem. A programaĆ§Ć£o completa estĆ” sendo postada no Instagram do evento (@uniaoculturaljf).
Em Grama, por necessidade
Crescer esse evento de tamanho sempre foi mesmo um sonho. Mas faltava tambĆ©m oportunidade. Foi necessĆ”rio ir buscando formas de fazĆŖ-lo acontecer. AtĆ© que eles pensaram na possibilidade de um edital cultural e se inscreveram, entĆ£o, no “Cultura da/na quebrada”, da Funalfa. Foi sĆ³ por isso que o UniĆ£o Cultural conseguiu sair do papel. “Grama, realmente, recebe poucos eventos culturais. Ć caro fazer, e a gente nĆ£o recebe muito apoio nem dos comerciantes locais, por exemplo. SĆ³ com um edital como esse seria possĆvel”, afirma.
Para Negro Lee, a internet Ć© ainda um dos principais responsĆ”veis pelo crescimento da cultura de Grama. “Mas, perto, quase nĆ£o vĆŖ a cultura sendo feita. Por isso a gente faz eventos aqui. Eu vejo uma necessidade grande de trazer mais arte para Grama, ainda mais sendo um artista do bairro. Porque Ć© assim que a gente inspira outras pessoas. Eu vejo que o acesso Ć arte me colocou no caminho certo. Aqui, tem muito talento a ser descoberto ainda. As pessoas ainda precisam entender o quanto a arte muda a vida. Ćs vezes, a arte nem precisa ser um caminho Ćŗnico. A pessoa nem precisa ser artista. Mas, sĆ³ de ter acesso, muda a vida. A arte, por si sĆ³, Ć© emancipadora”, finaliza.