Grito dos Excluídos!


Por Igreja em Marcha, equipe de leigos católicos

07/09/2019 às 06h53

O que ouviriam hoje as margens plácidas do Ipiranga? Do Amazonas, do Rio Doce ou do Paraibuna? Qual seria o brado retumbante do povo heroico do Brasil neste 7 de setembro? Pois bem, ouvirão o sonoro Grito dos Excluídos (GE)! Um clamor, de certo, mas, também, um ensurdecedor: BASTA! De todos os cantos do país, a ecoar para o mundo inteiro, uma grande manifestação popular se ergue desde as periferias da cidade, do campo e da floresta, reunindo diversas entidades e movimentos, artistas e ativistas, trabalhadores da enxada e dos centros de pesquisa, além de religiosos de várias denominações, o povo humilde que sabe bem o que é estar à margem e os que estão experimentando o gosto amargo de um sistema que exclui tudo e todos que possam o incomodar!

Como nos lembra dom José Mendes, na carta da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em apoio ao 25° GE, “convém ressaltar que ele é fruto da Campanha da Fraternidade de 1995, cujo tema era ‘Fraternidade e os excluídos’ e o lema: ‘Eras tu, Senhor?’. Ao contemplar as faces da exclusão na sociedade brasileira, setores ligados às Pastorais Sociais da Igreja optaram por estabelecer canais de diálogo permanente com a sociedade, promovendo, a cada ano, o GE!”. A data foi escolhida para fazer um contraponto ao Grito da Independência, esse cada vez mais inaudível, posto que nos discursos dos que governam se esbraveja um vivo “verde e amarelo”, mas, nas atitudes covardes e submissas, o que temos é um cenário cada vez mais cinza!

“Em 2019, o 25º GE trata do lema ‘Este sistema não vale! Lutamos por justiça, direitos e liberdade!’. Os direitos e os avanços democráticos conquistados nas últimas décadas, frutos de mobilizações e lutas, estão ameaçados. (…) O próprio sistema democrático está em crise, distante da realidade vivida pela população. O Grito precisa colaborar para gerar processos de conscientização e de mobilização social e de profecia da Igreja em defesa dos mais vulneráveis”, diz ainda a carta da CNBB.

Não só os direitos estão ameaçados, mas a própria soberania do país e suas riquezas, entre elas a Amazônia. “Denunciar a devastação e ocupar-se da preservação da Amazônia não representa ameaça à soberania; pelo contrário, o que a ameaça é a ganância, a insensatez e o retrocesso que os brasileiros estão assistindo nos dias atuais, especialmente corroborados pelas lamentáveis declarações de autoridades governamentais”, afirma dom Pedro Stringhini. Não por menos, elas temem o resultado das discussões que ocorrerão durante o Sínodo da Amazônia, que vai se debruçar sobre denúncias e apelos do povo amazônico.

A proposta do GE não só questiona os padrões de independência, mas ajuda na reflexão para um Brasil que se quer cada vez mais justo para todos, bem diferente do que se faz agora, quando se atacam a educação e a cultura, se entrega tudo ao capital estrangeiro, se radicaliza a violência e se envergonha o país no cenário internacional… É, portanto, um espaço de resistência, aberto para denúncias sobre as mais variadas formas de exclusão!
Como já é tradição, em Juiz de Fora, ele acontece após as celebrações cívico-militares, fazendo uma manifestação bonita pela avenida central, culminando com um ato inter-religioso!

No mês em que os católicos celebram a Bíblia, é válido lembrar que o Novo Testamento é um verdadeiro grito dos excluídos da Judeia e da Galileia, que, apesar da ameaça das elites e dos poderes instituídos da época, tiveram a coragem, a indignação, a persistência, a rebeldia e, com ardor no coração, disseram: “Jesus vive!”.

O Hino da Independência nos apresenta o dilema “ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil”. Nesse tempo em que “se morre de Brasil”, o Hino do Grito dos excluídos segue noutra direção e conclama: “Vamos juntar nosso grito, do Sul ao Norte, vamos juntar nossas mãos, nossas vozes cantando bem forte… A vida em primeiro lugar!”.

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