Pessoas e pontes

Boa parte das pontes da cidade abriga personagens anônimos, que, por opção ou por exclusão, fazem delas o seu lar


Por Tribuna

25/08/2019 às 07h00

Quando o fluxo migratório se intensificou na Europa, autoridades dos setores sociais convidaram representantes do Brasil para discutir o problema. O motivo era a expertise desses profissionais na lida com população em situação de rua. Os europeus ficaram e continuam estupefatos com a onda de pessoas oriundas de várias partes do mundo em busca de condições de vida mais digna. Nem todos conseguem. Os países do primeiro mundo já apresentam uma paisagem urbana distinta de outros tempos.

Na edição deste domingo, a Tribuna trata de personagens que vivem uma dura realidade nas ruas, mas aborda, especificamente, os que moram embaixo das pontes que cortam a malha urbana da cidade, passando pelo Paraibuna. Foram recolhidas várias histórias de forte componente social, muitas delas desmitificando perfis que ocupam o inconsciente coletivo, como “todo morador de rua usa drogas”. Nas muitas experiências colhidas pela repórter Sandra Zanella, há casos de pura incerteza, mas sem se render ao vício. São personagens que surgiram em razão do cenário de desigualdade que ainda permeia a vida nas cidades. A falta de oportunidades, que deixa 13 milhões de brasileiros sem emprego, afeta alguns mais do que os outros, e estes alguns, muitas vezes, estão nas ruas.

O discurso fácil indica que há abrigos para atender a essa perversa demanda, mas todos têm o direito de ir, vir e permanecer e que podem optar por essa terceira opção, o que, no entanto, não deve afastá-los de ações sociais. O município, como também foi atestado, executa missões periódicas em busca desses personagens, mas só um projeto de grande monta – como já estaria sendo gestado – será capaz de virar o jogo. As discussões com representantes de outros municípios são um dado a considerar, pois a troca de experiência pode fornecer soluções para os dois lados. As grandes metrópoles têm gargalos bem mais acentuados e de solução mais complexa. Juiz de Fora fica no meio do caminho. O serviço ora prestado já é um fator positivo, que, no entanto, como as demais instâncias, em decorrência de recursos escassos, ainda carece de mais investimentos.

O ponto a ser enfatizado, porém, é que, salvo exceções, a maioria das pessoas nessa situação não quer ficar nas ruas, enfrentando as intempéries e os riscos do ciclo das chuvas, prestes a começar. Como bem destacou um dos personagens: “Assim que der, saio daqui”

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