OMS lança políticas públicas para reduzir suicídios
Uma das preocupações atuais é o crescimento do autoextermínio entre crianças a partir dos 10 anos de idade
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que ocorram no mundo cerca de 800 mil mortes por suicídio por ano. No Brasil, são registrados cinco suicídios a cada cem mil habitantes, o que gerou um total de 11 mil mortes em 2017. O Ministério da Saúde salienta que há subnotificação dos casos, que podem chegar a um número até 20% maior, porque ainda há muitas mortes classificadas como intenção indeterminada. O autoextermínio é a quarta maior causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos e a terceira maior entre os homens de todas as idades, que são o público que mais morre. Nas mulheres, o autoextermínio é a oitava causa de morte, no entanto, há um maior número de tentativas. Embora todos esses números possam não corresponder ao que ocorre na sociedade, eles ajudam a entender a extensão do problema. A preocupação dos especialistas se traduz em metas. A OMS lançou uma agenda estratégica com o objetivo de reduzir os suicídios em 10% até 2020.
Localmente, os dados indicam uma pequena divergência. Enquanto a Secretaria de Saúde de Juiz de Fora informa que aconteceram 27 suicídios em 2017, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) registra que, no ano passado, foram 25 casos na cidade. De janeiro a julho desse ano, já são 26 óbitos, ainda não verificados pelo município.
Um dos pontos que chamam a atenção é que o número de suicídios começa a crescer entre as meninas a partir dos 10 anos e vai em uma preocupante crescente até os 15 anos. Entre os meninos, o aumento do casos começa a se acentuar por volta dos 11 anos e atinge o pico por volta dos 20 anos. Na cidade, já há um número maior de suicídios entre adolescentes e jovens adultos na relação entre 2017 e 2018, mas o maior volume de casos se concentra na faixa dos 30 anos aos 59 anos. Esses números indicam a necessidade de políticas públicas. No Estado, a diretriz destacada pela SES é a capacitação de profissionais para ter um olhar ampliado para questões de saúde mental, que possa estar integrado com os demais agentes de saúde. Entre elas, o Fórum Estadual Intersetorial sobre drogas, o Encontro Mineiro de Saúde Mental de Crianças e Adolescentes e Ação educativa: o cuidado em Saúde Mental de Crianças.
Para atingir a meta fixada pela OMS, o Ministério deve fortalecer o trabalho da Rede de Atenção Psicossocial (Raps), já que se verificou que a presença de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) nas cidades pode reduzir os riscos de suicídios em até 14%. Também há um reforço na divulgação sobre a prevenção e o encaminhamento para o tratamento. O Ministério da Saúde liberou R$ 500 milhões para a aplicação da gratuidade nas ligações para o telefone do Centro de Valorização da Vida (CVV), o 188, que, após convênio firmado no último ano, recebeu dois milhões de ligações, o dobro do ano anterior. Estima-se que, em 2018, o CVV receba 2,5 milhões de ligações.
Embora o tratamento do suicídio tenha crescido muito nos últimos três anos, desde a criação das campanhas do Setembro Amarelo, ainda é preciso aumentar o acesso da população à saúde mental e diminuir os estigmas que afetam quem precisa de tratamento. De acordo com o psiquiatra Bruno Cruz, que é vice- presidente da Associação Psiquiátrica de Juiz de Fora e colunista do Papo Cabeça da Rádio CBN Juiz de Fora, alguns mitos ainda precisam cair. “Ah, quem fala não faz. É mentira. Quem fala faz e quanto mais vezes tentar, maiores são as chances de ser bem sucedido”, explica. Segundo ele, em 97% dos casos de autoextermínio há alguma doença mental associada, que se tratada pode mudar o destino da pessoa. “As mortes por suicídio são completamente evitáveis. Normalmente, a pessoa que pensa em cometer suicídio fala que vai realizá-lo, ela deixa muitos sinais. Uma tristeza profunda, isolamento social, queda no rendimento acadêmico, no trabalho.” Quem está no entorno de alguém que pensa em suicídio, a sugestão é deixar caminho aberto para o acolhimento, e que nessa abordagem, a pessoa possa ser conscientizada sobre o caminho do tratamento.
Sua vida vale ouro
A Unimed promoveu um debate sobre a prevenção ao suicídio e sobre a valorização da vida na noite da última terça-feira (25). Dentro dos preceitos incentivados pela campanha do Setembro Amarelo, o evento levantou reflexões sobre a temática sob a ótica de diferentes atores da sociedade. “O suicídio é tratado pela OMS como uma grave questão de saúde pública, envolve risco, preconceito, estigmas e pela dificuldade de encontrar ajuda. Então, a nossa postura é de falar sobre o assunto, fortalecendo a rede de proteção e promovendo o acolhimento, por meio de uma postura ética, de uma escuta empática e atenciosa e pensando junto”, afirmou a psiquiatra Elimar Jacob Salzer, organizadora e mediadora da iniciativa. O evento contou com a participação da psicóloga e psicanalista Regina Castelo, do psiquiatra Sílvio de Oliveira, da assistente social Liliane Knopp e do jornalista da Tribuna, Renan Ribeiro.