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Ex-alunos da UFJF que estão na Rússia cobrindo a Copa relatam rotina de trabalho

esp Guilherme Oliveirapara capa Arquivo pessoal

(Foto: Arquivo pessoal)

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A vida na Rússia é bem diferente para os jornalistas formados na UFJF que estão cobrindo a Copa do Mundo de 2018 exatamente onde ela ocorre. Em meio à comida incomum, língua local e o clima não tão europeu de Sochi – cidade em que a Seleção Brasileira se concentrou para as partidas da primeira fase, Patrícia Vasconcellos e Guilherme Oliveira se aventuram em terras russas com a tarefa de levar um pouco da cultura local e, claro, muito futebol para um país sedento por Copa a mais de 14 mil quilômetros de distância.

Até 15h por dia conectado

 

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(Foto: Arquivo pessoal)

No dia 1º de julho de 2006, o juiz-forano Guilherme Oliveira estava no estúdio da rádio universitária. Naquele momento, a vibração dos radialistas da Faculdade de Comunicação da UFJF com a cobertura da Copa do Mundo dava lugar à decepção com o gol da França que eliminava precocemente o Brasil da competição, nas quartas de final. Na transmissão da Facom, a tristeza foi descrita na voz de Guilherme, na época, ainda um aspirante à jornalista esportivo. Doze anos depois, o agora profissional está pela segunda vez cobrindo um Mundial in loco como produtor da Seleção Brasileira pelo Grupo Globo e conta que está respirando Copa. Segundo ele, a rotina profissional exige até 15 horas por dia conectado e informado com tudo que envolve a equipe canarinho. “Além de acompanhar os treinos e coletivas, produzo matérias para a Globo e SporTV em todos os telejornais. A rotina de produção de entradas ao vivo também é grande em durante toda nossa programação”.

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Guilherme destaca que a paixão é o principal combustível para o sucesso profissional. “Não adianta conhecimento sem motivação no jornalismo. Tratar uma pauta aparentemente simples como se fosse um jogo de Copa do Mundo. Trabalho desde 1998 e, antes do jornalismo, passei por outras profissões, antes mesmo de entrar na faculdade. Meu primeiro emprego foi entregando panfletos no centro de Juiz de Fora, e confesso que o fazia com o mesmo profissionalismo que exerço minha função aqui na Copa do Mundo da Rússia”, afirma.

Sochi ou Rio de Janeiro?

Calor, praia, pessoas se exercitando na rua debaixo de muito sol. Por incrível que pareça, essa não é a descrição do Rio de Janeiro ou de alguma cidade litorânea brasileira. Mas de Sochi, na Rússia, cidade que a Seleção Brasileira escolheu como sede ao longo da participação na Copa. O verão russo remete ao clima costumeiro do Brasil para Guilherme Oliveira. “Sochi está com um clima incrível nessa época de verão e me lembra o Brasil. Muito calor, praia… As pessoas fazem muito exercício nas ruas, correm e pedalam. A alimentação está muito globalizada, e é possível encontrar restaurantes italianos, por exemplo, mas ainda não consegui encontrar nosso arroz e feijão”, reclama.

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O trabalho jornalístico exige constantes viagens para o produtor, que acompanha a Seleção Brasileira aonde quer que ela esteja, além de outras competições futebolísticas internacionais. Apesar da rotina intensa, Guilherme afirma que há vivência suficiente para assimilar cada cultura. “Mesmo com o trabalho, conseguimos sentir e viver o clima dos locais. Essa experiência é o que de melhor acontece nas viagens. Entender, conhecer e respeitar cada cultura. Cresço muito com exemplos diários, visões de mundo diferentes. Sempre tentamos produzir matérias que mostrem a história do lugar, sua gente. O plano de fundo é o futebol, mas é essencial aproveitar esses momentos e levar para os telespectadores muito mais do que isso”.

Em quase duas décadas, uma revolução digital

 

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(Foto: Arquivo pessoal)

Por poucos anos, Patrícia Vasconcellos não foi contemporânea de Guilherme Oliveira na UFJF. Formada em 2000, a atual repórter do SBT se lembra da transição tecnológica vivida na época de universitária. “Era uma época de transição do analógico para o digital. Os celulares eram super novidade. Telefonar para casa significava ficar um bom tempo em frente à fila do orelhão, por exemplo.

Na Facom, os equipamentos ainda eram em fita VHS, e a diagramação era ensinada no papel”, recorda. A formação deu certo. Após passar por diversas emissoras de TV, Patrícia está em sua primeira cobertura de Copa do Mundo. No último mundial, quando toda a imprensa estava com os olhos voltados para o Brasil, a jornalista estava no país vizinho, Argentina. Hoje, vive de perto a experiência do maior espetáculo futebolístico do planeta e destaca o contato com jornalistas de todas as partes do mundo. “Em 2014 estava na Argentina e cobri, de lá e também de outros países latinos, os jogos dos adversários do Brasil. Agora é diferente, pois estou no país sede do Mundial. Trabalhar ao lado de profissionais renomados de grandes redes de comunicação do mundo é algo enriquecedor. É muito interessante trocar experiências e compartilhar conhecimento com colegas de outros países”.

Ameaça de bomba e língua russa apenas no tradutor

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Logo nas primeiras semanas de estadia na Rússia, um susto. O dia a dia de gravações e participações nos noticiários televisivos exigiram muita correria e constantes viagens entre cidades-sede da Copa. Em uma dessas peregrinações, uma suspeita de bomba fechou o aeroporto de São Petersburgo. A imediata preocupação da jornalista? O trabalho. “Desembarcamos em São Petersburgo, e o aeroporto estava totalmente fechado por conta de uma ameaça de bomba. Uma bagagem deixada no saguão estava sendo inspecionada. Como sempre estamos correndo contra o tempo, avaliamos ainda em frente ao aeroporto alguma possibilidade de sair dali uma vez que tínhamos que cobrir a torcida do jogo entre Argentina e Nigéria. Havíamos chegado à conclusão de que o melhor seria caminharmos 5km até a saída do aeroporto – com malas e equipamentos – para lá fora encontrarmos algum outro motorista. Por sorte, essa alternativa foi descartada quando nos informaram a reabertura do trânsito no aeroporto”.

“A natureza do nosso trabalho – ter um deadline sempre muito curto – gera sempre situações inusitadas”, destaca. Estando em um país atípico, então, aumenta a frequência dessas situações. A barreira linguística, no entanto, é superada de maneira criativa. “O idioma é um obstáculo porque em muitos locais é difícil encontrar pessoas que falem inglês. E como o russo é uma língua sem similaridades com outras que domino, acabo recorrendo ao tradutor do celular, é uma muito importante no cotidiano e que as pessoas usam sem problema algum”.

Futebol e empoderamento diário

Patrícia não hesita ao ser questionada sobre os casos de assédio envolvendo jornalistas e torcedores que estão sendo expostos durante a competição. Apesar de pontuar que não há qualquer distinção no ambiente profissional com seus colegas de trabalho, ela destaca uma dificuldade maior no contato com os torcedores. “Se entre os colegas de profissão o clima é de total parceria e tranquilidade, o que tenho percebido, no entanto, é uma dificuldade – como mulher – para cobrir torcidas. Sobre isso, enfrento algumas situações delicadas. Como, por exemplo, um torcedor que se aproxima e acha correto abraçar mais forte, colocar a mão na cintura, dar um beijo”.

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Para a jornalista, o destaque que o assunto vem tendo na imprensa internacional pode ser um indicativo de mudança. “Alguns jornais internacionais chegaram a noticiar a reação de jornalistas de TV que se posicionaram totalmente contra este tipo de atitude masculina, chamando a atenção para uma campanha contra o assédio de jornalistas mulheres no esporte. Acho que o tema tem que ser exposto e falado para mostrarmos que não é um problema de um país X ou Y, mas de uma cultura machista que deve ser mudada. Penso que o avanço existe quando tais casos de assédio são noticiados como algo que foge da normalidade. Se a sociedade fala sobre o tema, evoluímos. Assim espero”.

A igualdade é conquistada no cotidiano. É o que acredita Patrícia Vasconcellos, que remete a um ensinamento de sua mãe ao destacar que cresceu sem limitar seus objetivos por conta do gênero. “Acho que este empoderamento é conquistado no dia a dia. São pequenas lutas diárias não só no ambiente de trabalho mas em qualquer setor da sociedade. Sou de uma geração que se formou para ganhar independência financeira e para voar tão alto quanto qualquer outra pessoa no mundo. Lembro de minha mãe sempre dizendo e eu ainda muito pequena: ‘só talento não é suficiente. Para atingir seus sonhos é preciso foco e dedicação’. Nosso empoderamento, repito, está nas lutas diárias como exigir respeito e igualdade em toda e qualquer situação”.

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