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Zé Legião do Brasil

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De saída, para não desanimar, feliz ano novo. Eu me chamo Zé Legião do Brasil. Todinho do Brasil, Legião, Zé, Mané. Zé Mané! Somos muitos e não somos ninguém, somos centenas de milhares de otários sendo desrespeitados e explorados por aí. Tirando leite de pedra. Querem ver?

Coloca um chip aqui, outro acolá, robotiza tudo, faz reforma trabalhista, dançam milhões de trabalhadores, e só fica vaga para uma meia dúzia de três ou quatro superespecializados. O resto só arruma subemprego ou vai para a informalidade – ou para o crime. Ou vai à merda. E tome faculdade disso, faculdade daquilo, e no final ninguém consegue nada.

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A gente olha para o homem, essa tralha pré-histórica cheia de queixas e contradições, e se pergunta por que as corporações invisíveis que mandam no mundo vão querer isso. Não vão. Gente incomoda. Robô, não.

Uma vez me explicaram, durante a implantação de um programa de qualidade numa empresa onde trabalhei (é, já consegui trabalhar), que a fábrica do futuro empregará apenas um homem e um cão. O homem para cuidar dos computadores que produzirão tudo e o cão para impedir que o homem faça sabotagens. Eu perguntei então a um grupo de diretores onde estará o resto das pessoas. Eles não sabiam. Eu caprichei: provavelmente quebrando a fábrica! Quase fui demitido por levantar controvérsias sobre o “progresso”.

Vou ao supermercado, e está escrito na embalagem de um monte de produtos, me desafiando: “Peso reduzido para 200 gramas, otário”. É, o peso diminui, mas o preço aumenta. Só falta escreverem: “Otário!”. E eu não faço nada. Compro. Ainda mofo na fila. Sou um otário! Tem soda cáustica no leite, bromato de potássio no pão, agrotóxico em tudo, cocô e chumbo na água, corante e cheiro de podre nas carnes, tem as mãos desses mascates para todo lado nos envenenando.

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Para depois morrermos nas filas dos hospitais do povão. Ou então na mensalidade atrasada do plano de saúde. Primeiro adoecem a gente, depois os médicos cobram o olho da cara para dar uma olhada no estrago e finalmente receitam um remedinho para as farmácias acabarem de nos esfolar. Nunca tivemos tanto do que reclamar, ferraram a Previdência, está uma zorra, mas reclamar com quem? Tem alguém aí?! Alô, seu juiz, alô, seu delegado, policial, vereador, senador e deputado, alô, seu safado!
É carro poluindo tudo, é gente degradando tudo, é bala furando tudo, é a solidão ferrando tudo, é a natureza começando a reclamar, é todo mundo fingindo que não vê a cagada que está fazendo. Enquanto isso, está lá o moleque pobre sabendo que a escola está uma porcaria, que não tem nada a ver com a sua realidade, sem pai nem mãe, o moleque cheio de vontades na frente da TV e do celular… Compre! Consuma! Se vire! Dane-se! E está lá o tráfico, está lá a droga…

Chega! Eu não quero mais que a violência multifacetada caia sobre minha cabeça, eu não quero fazer parte dos quase 50 milhões de trabalhadores desempregados e informais do Brasil, eu não quero perder a esperança todo dia, eu quero ser ouvido, eu não quero me sentir um Zé Mané, porque honestidade nesse país virou coisa de trouxa. Eu quero a minha vida de volta! Já! Agora! No ano novo!

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