O tempo do Advento é para toda a Igreja, momento de forte mergulho na liturgia e na mística cristã. Ele recorda a dimensão histórica da salvação e nos insere no caráter missionário da vinda de Cristo. Jesus, que de fato se encarna e se torna presença salvífica na história, confirma a promessa e a aliança feita ao povo de Israel. Deus, ao se fazer carne, plenifica o tempo (Gl 4,4) e torna próximo o Reino (Mc 1,15).
Estamos entrando em um novo ano litúrgico para a Igreja Católica. O Advento é o primeiro tempo desse ano e marca o início da etapa decisiva da história da salvação. Ao longo do Advento, fazemos comunhão com aquela mulher que em detrimento de toda ameaça de violência, de toda dúvida, de todo desapego de si e de seus planos, que com seu imperativo obediente “faça-se em mim”, deu o consentimento mais importante para nós e para Deus, preparando o caminho de reconciliação e redenção.
Maria de Nazaré vive a expectativa da chegada do menino Deus, que ela gera em seu ventre com muita alegria. Assim, também nós, somos convidados a nos preparar para esse encontro. As comunidades cristãs utilizam de símbolos para essa preparação. O presépio, inspirado na narrativa de Lucas e criado por São Francisco de Assis, representa a humildade das condições humanas daquele que há de vir, mas que completado com a estrela no horizonte, o anúncio e o coro dos anjos, nos diz que todo céu também está em festa! Além desse símbolo, há a Coroa do Advento que a cada domingo vê-se acesa uma de suas velas, para nos dizer que estamos cada vez mais iluminados pela luz que há de dissipar as trevas que rondam nossas vidas! Já a imagem da mulher grávida, sentada no lombo de um burrinho, guiada por seu cuidadoso marido, faz-nos recordar o quanto somos errantes nessa vida e que o caminho, por mais sofrível que seja, nos promete o nascimento de uma alegria sem igual!
O Advento bem vivido é aquele que não se preocupa com a manjedoura simples que irá acolher o recém-nascido, mas que se alegra com o que está por vir, que crê naquele recomeço de vida tão frágil e que coloca toda asua confiança nos planos de Deus. Nosso coração é que deve aberçar o menino Deus!
Assumir um bom Advento significa tornar-se coparticipativo na implantação do Reino de Deus, sentir-se responsável pelo bem comum, olhar a todos como irmãos, desapegar-se das vaidades, dos preconceitos e colocar-se à disposição para promover o bem e salvaguardar da destruição os tesouros da Criação, nossa casa comum e todas as suas criaturas.
Como disse o Papa Francisco na sua visita ao Japão, este mês, “no mundo de hoje, onde milhões de crianças e famílias vivem em condições desumanas, o dinheiro gasto e as fortunas envolvidas na fabricação, na modernização, na manutenção e na venda de armas ainda mais destrutivas é uma indignação contínua que grita em direção aos céus”.
O tempo do Advento nos ensina que Jesus é aquele que virá trazer a verdadeira paz e que, seguindo os passos da Sagrada Família migrante, podemos nos encaminhar até Ele. Que esse Advento seja tempo propício de revermos nossas condutas, assumirmos verdadeiramente nossa missão de anunciadores do Cristo que há no coração dos nossos irmãos e possamos rezar a linda oração de dom Hélder Câmara: “Volta meu pedido para que chegues, de verdade. Usa-nos à vontade. A todos nós. Que nossa presença represente sempre Advento e Natal!”.
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