Os transtornos causados pelo fechamento do local onde eram depositados os resíduos de construção civil em Juiz de Fora refletem a realidade da maioria dos municípios brasileiros: o Brasil está na idade do entulho. O quadro se repete: os transportadores não querem levar os resíduos até o centro de tratamento de resíduos (distante 20km do Centro da cidade), as construtoras são obrigadas a armazenar entulho nas obras, os descartes irregulares aumentam, sujando a cidade, e o Ministério Público exige providências da Prefeitura, que corre para tentar atender a todos.
Cabe uma reflexão de cunho tecnológico: por que geramos tanto resíduo? Nossos sistemas e processos construtivos estão atrasados, e as perdas são enormes. Estima-se que cada obra nova pode gerar até 150kg de resíduos por metro quadrado. Embora boas práticas construtivas ajudem a reduzir essa massa, não haverá solução em curto prazo. Modernização de verdade depende de desenvolvimento do país e de uma guinada cultural no setor, que leva tempo.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (Lei 12.305/10) institui a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Infelizmente, pelo que assistimos hoje, ninguém é dono do entulho. Em Juiz de Fora, o Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil, ainda no papel, contempla múltiplas ações para atendimento à PNRS.
A construção civil é um dos setores que mais consome recursos naturais. Deixar de reciclar montanhas de entulho (em Juiz de Fora, são geradas de 700 a mil toneladas por dia) significa extrair novamente da natureza 100% da matéria-prima para fabricar tijolo, plástico, madeira, papel, aço, etc. Enterrar os resíduos, como vem acontecendo, é enterrar também a energia e as emissões de CO2 neles já embutidas, centro das discussões ambientais no mundo atual. Ao contrário, reinseri-los na cadeia produtiva é economizar energia. A triagem dos resíduos, a ser feita pelo gerador, pode permitir ainda, antes da reciclagem, o reuso de muitos materiais.
A seca no Sudeste do país este ano nada mais é que resultado da trilha já conhecida: destruição da natureza – emissão de gases do efeito estufa – aquecimento global – mudanças climáticas. É preciso ampliar nossa visão sobre o problema dos resíduos de construção civil na cidade, que inclui também aspectos econômicos e sociais, adotando soluções que, de fato, representem ganhos para todos hoje e no futuro.