Para os cristãos, mártires são todos aqueles que sofrem perseguição e morrem por assumir o compromisso batismal de viver e anunciar o Evangelho. O símbolo que distingue um santo mártir é a palma, mais precisamente, uma folha de tamareira. Ela é chamada Palmeira Fênix, porque, na antiguidade, se acreditava que a ave mitológica nela fazia o seu ninho. Também era considerada a “árvore da vida” por ser uma das poucas que resistem ao calor do deserto. Seu fruto era carregado de significado, pois se dizia que uma única tâmara podia alimentar uma pessoa por três dias, uma vez que sua pele, sua polpa e sua semente serviriam de subsistência um dia após o outro.
A beleza da iconografia, entretanto, contrasta com a barbárie das perseguições, torturas e mortes violentas a que são submetidos aqueles que se recusam a renunciar a sua fé. A História da Igreja mostra com clareza que, em todos os lugares do mundo onde a semente do Evangelho foi lançada, teve que ser regada com o sangue dos mártires. Desde seu precursor João Batista, Jesus, ele próprio, e muitos de seus apóstolos e discípulos, seguidores e fiéis sofreram o martírio em todos os continentes e em diversos contextos históricos.
Mas, como demonstrou o Papa João Paulo II, o século XX sozinho fez mais mártires do que toda a história anterior da Igreja. E, infelizmente, o século atual tende a superar essa marca, caso nada seja feito, pois a religião cristã continua sendo a mais perseguida no mundo. E, ainda, com a espetacularização da internet, a exibição das torturas e de mortes brutais tornou-se comum. “O sangue desses mártires grita conosco. O tempo é curto, vamos parar de fazer o mal e trabalhar para sermos santos”, testemunha irmã Guadalupe, missionária no Oriente Médio.
Na América Latina, inclusive no Brasil, a violência e a intolerância permanecem sendo maiores contra as religiões de matrizes africanas; entretanto, o continente ainda gera muitos mártires cristãos, sobretudo, quando fiéis, religiosos e missionários assumem o compromisso evangélico da defesa dos mais pobres contra o interesse de poderosos, como foi o caso da irmã Dorothy Stang, e, antes dela, de dom Óscar Romero, cuja canonização está prevista para o próximo ano, e, como eles, vários outros!
Para o Papa Francisco, a resposta ao avanço da violência deve ser dada de forma conjunta por todas as realidades eclesiais, oferecendo juntas uma mesma mensagem de paz e de reconciliação. “Que hoje o sangue de tantos mártires seja semente de unidade entre os crentes, sinal e instrumento de um futuro em comunhão e paz”, suplicou o Pontífice. E advertiu que, “ali onde a violência chama a violência e a violência semeia morte, nossa resposta deve ser o puro fermento do Evangelho o qual, sem prestar-se às lógicas da força, faz surgir frutos de vida também na terra árida, oferece o amanhecer da esperança depois das noites de terror”.
Que nossas orações sejam como tâmaras de perseverança para todos que hoje sofrem com perseguição, tortura, prisão e até escravidão! Que a fé na ressurreição, nova vida que vence as cinzas, os conforte! Que todo mártir, ainda que sem ícone algum ou ação internacional, receba a palma celeste por seu silencioso (e silenciado) testemunho e sacrifício!
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