Os dias no calendário só têm sentido se forem, de alguma forma, comemorados, lembrados e provocarem em nós alguma reação, algum movimento ou reflexão. Do mês de junho, que chega ao seu fim hoje, desejo destacar o dia 15 de junho, consignado pelas Nações Unidas como o Dia de Conscientização sobre a Violência contra as Pessoas Idosas no mundo inteiro. Desejo, portanto, escrever um pouco sobre essa realidade da violência contra os idosos. Independentemente da idade e de outras realidades humanas, a violência está escancarada à nossa frente e, por que não dizer, em nós mesmos. Por aqui, em JF, caso recente de estupro coletivo em um bairro da cidade. A violência contra as pessoas que se afirmam na sua condição humana de se permitirem livres e felizes pelo que são, independentemente de raça, gênero, crença, sexualidade e idade, deixa muita gente doente. Mas doente mesmo! Como bem disse, certa vez, o ator e diretor de teatro Antonio Abujamra, com o seu “Provocações” (extinto), na TV Cultura, diante de mais um entrevistado: “somos todos colegas de enfermaria”!
No caso de pessoas idosas, a violência contra elas sempre existiu. Desde que o mundo é mundo. As evidências dessa realidade podem ser expressas de diversas maneiras. A agressão que marca o corpo da pessoa, como os braços e o rosto, por exemplo; as que não vemos, que não aparecem numa primeira “olhada”. São as silenciosas, que estão grudadas na alma. São palavrões vindos de casa, carregados de intolerância de um familiar, com acúmulo de frustrações diante da vida em seus projetos pessoais e profissionais, o que reproduz uma convivência familiar extremamente inviável. Como denunciar às autoridades as agressões sofridas por um filho/a, por um neto/a, sobrinho/a? E é nesse contexto de relações mais próximas que as violências contra as pessoas idosas acontecem. O inimigo não mora ao lado. O inimigo dorme com você!
Estudos gerontológicos apontam essa realidade. É principalmente em suas relações domésticas que ganha forma a violência contra os/as idosos/as. Mas não é só em casa que as pessoas idosas são desrespeitadas. No convívio diário, com a cidade, também. No atendimento mensal, em algumas agências bancárias, para receberem seus benefícios previdenciários, sob o sol, sob chuva, enfrentando enormes filas. Em alguns ônibus do transporte urbano, quando falta educação por alguns passageiros, na garantia do assento preferencial para as pessoas mais velhas. Ou aquele motorista, desavisado e inconsciente, que acha que não vai envelhecer, que não para no ponto para o idoso acessar ao interior do ônibus, como um cidadão merecedor de todo o respeito. Acredito que ainda vai demorar um tempo para aumentar nossa educação e cultura cívica em relação às pessoas idosas. Precisamos primeiro admitir que nós todos e todas envelheceremos (isso em condições normais de temperatura e pressão, como na química, sem contar com os acidentes de percurso que poderão acontecer).
A violência contra as pessoas idosas deve servir para algumas reflexões. Primeira: ela existe e sempre existiu. E está presente no nosso dia a dia, dentro e fora de casa. Nas ruas, nas praças, nos ônibus, nos olhares invisíveis que lhes são lançados. Nas relações sociais que as pessoas idosas produzem na cidade. Segunda reflexão: o que fazer para mudar esse quadro? Educação. Campanhas e mais campanhas educativas na sociedade. Entrar com conteúdos sobre envelhecimento na rede pública municipal de educação. Na rede estadual também e nas instituições de ensino superior (faculdades públicas e particulares). O envelhecimento humano diz respeito a toda a sociedade. Se desejamos uma cidade solidária e com um alto grau de civilidade, comecemos o quanto antes a dirigir ações, projetos e programas para a população que mais cresce no mundo, no Brasil e em Juiz de Fora: a população dos que têm 60 anos e mais. O futuro de todos nós.