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Mark e os jornais

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É sintomático que o mentor e executivo-chefe do Facebook, Mark Zuckerberg, tenha escolhido os jornais para estampar, em anúncios de página inteira no domingo passado, seu pedido de desculpas pela quebra da privacidade de 50 milhões de usuários na entrega de dados à consultoria eleitoral Cambridge Analytica. Por que um dos impérios digitais do planeta, erguido em grande medida pelo desprezo à imprensa profissional, se valeria de nove títulos de edições impressas – três nos Estados Unidos e seis no Reino Unido – para apresentar um inédito mea-culpa? A razão pode ser resumida em um objetivo: a busca da credibilidade.

Gradativamente, os jornais deixaram de se posicionar como meios da era pré-internet que divulgavam notícias do dia anterior para, escorados em técnica jornalística e códigos de ética, se transformarem em certificadores da realidade em uma era em que a difusão de informação virou de cabeça para baixo. Com seus anúncios, o que Zuckerberg sinalizou é que, para fazer frente à acelerada corrosão do submundo digital, ele também precisa ancorar a reputação de sua empresa em baías seguras, protegidas do vendaval de bits que varre o planeta e recria a realidade ao gosto do cliente e no engano do freguês.

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Desde sempre, os jornais estão fundeados nas baías da confiança, em oposição às marés de notícias falsas e às fraudes nas métricas digitais que deturpam audiências e iludem a boa-fé de anunciantes. Por não aceitarem mais terceirizar sua reputação a loterias digitais, nas quais marcas consagradas podem acabar patrocinadoras involuntárias de conteúdos racistas, ofensivos ou apenas delirantes, é que mais e mais grandes empresas se distanciam do oceano selvagem das redes e buscam refúgio em enseadas confiáveis e resguardadas das tempestades virtuais.

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Nunca é demais lembrar que jornais – bem como os demais meios que assumem suas responsabilidades diante da sociedade – estão no ramo do acerto e da precisão. Quando erram, o que é uma trágica possibilidade em um produto dinâmico e subjetivo, assumem sua falha e corrigem-na assim que a identificam. É uma atitude bem diferente da olímpica lavagem de mãos de plataformas digitais que, muitas vezes à custa da disseminação de falsidades, extraem o máximo de dados de usuários que sequer se dão conta de serem eles o produto final dos facebooks da vida.

Os engenheiros que desenvolveram o modelo das redes digitais só agora percebem que sua criação, ao lado de uma saudável multiplicação de vozes, carregava potenciais e lesivos efeitos colaterais. Além do vazamento de dados e da falsificação de fatos, as redes acabaram reforçando as bolhas de opinião nas quais seus membros ficam presos e submetidos às mesmas e mesmas versões, em um crescendo radical que não raro explode com virulência na mesa de jantar ou na rua.

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Ao publicar diferentes e por vezes antagônicas opiniões, os jornais se converteram também em pontes entre as bolhas. Esse cardápio de diferentes visões se chama pluralidade, uma característica fundamental da vida harmônica em sociedade, sem a qual marcharemos para a fratura social e o abismo. Não se deve estranhar, portanto, o fato de Zuckerberg, em meio à sua própria borrasca e mesmo que fugazmente, fazer escala em portos seguros para a construção da credibilidade e da pluralidade. Antes tarde do que nunca, o gesto deveria ser o início da descoberta de um novo mundo pelas plataformas digitais.

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