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Uma verdadeira democracia não está se instalando

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No último dia 6/11, foi publicado, neste jornal, o artigo “A verdadeira democracia está se instalando!”. A expressão pública de opiniões diversas, inclusive políticas, merece a defesa de todos os que nutrem apreço pela democracia. É bom que reflexões como as contidas no referido artigo sejam veiculadas, pois, com isso, o debate público sai fortalecido. E, justo por se tratar de um debate público, arrogo-me o direito de me contrapor a vários dos argumentos ali contidos.

Não entrarei no mérito da puerilidade subjacente a algumas passagens do texto, em que é sugerido aos leitores que, nas eleições municipais do próximo ano, votando nas forças associadas ao atual presidente em exercício, eles encontrarão o pote de ouro ao final do arco-íris. Nem os contos de fada seriam tão ousados. Mas, como diz o poeta, “somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter”.

Alerto aos leitores deste espaço que governos municipais (Executivo e Legislativo) orientados pela lógica do atual Governo federal não potencializarão nossa combalida democracia. Pelo contrário, hão de enterrá-la de vez. E isso por uma razão assustadoramente simples: exala do atual Governo federal certa ojeriza pela democracia, o que pode ser aquilatado pela defesa pública e insistente da ditadura militar, da tortura, da eliminação de opositores políticos, do emudecimento da imprensa, do banimento da sociedade civil organizada dos espaços de decisão política, de preconceitos de toda sorte, da perda de direitos historicamente conquistados pela população e da degradação do meio ambiente. Trata-se de ambições autocráticas e plutocráticas que se colocam diametralmente opostas à permanência e à expansão dos princípios democráticos em nosso país. A ideia de que “a verdadeira democracia está se instalando” sob a liderança do atual Governo federal é uma falácia. E, como toda e qualquer falácia, deve ser contestada publicamente!

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No texto sob apreciação, a indicação dos cinco itens necessários a uma formação popular verdadeiramente democrática também induz o leitor mais desavisado a supor serem eles reproduzidos/praticados pelo atual Governo federal. Não encontro outra expressão adjetiva para qualificar tamanho engodo senão “é um deboche”! Os quatro primeiros itens falam de educação, cultura, paz, amor, não violência e fraternidade, dissimulando o desdém do

Governo federal hodierno pela educação, pela ciência e pela cultura, e o fato de que um governo cujo símbolo é uma arma apontada para seus opositores preza por qualquer coisa, menos por “deixar viver”. O último item fala de uma crença metafísica como se ela fosse universal e devesse ser compulsória, ignorando e desrespeitando o pluralismo religioso existente no país. Nada mais antidemocrático!

Nos parágrafos finais, sugere-se que, ao redor do mundo, povos haveriam descoberto serem eles as verdadeiras emanações de poder, votando em candidatos com o perfil do atual presidente brasileiro e se opondo aos responsáveis pelas “lamentáveis ‘fake knews'”. Mais puerícia? Sim. Mas eu prefiro a tese do “é engodo”. Tão fake news quanto aquelas propaladas pelo atual Governo federal é sugerir à população que reproduzir a lógica bolsonarista no nível municipal nos levará ao paraíso democrático. Nessa eu não caio. E nem você, prezado leitor, deveria cair.

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