É inacreditável que os empresários que pagam tantos tributos e possuem extensa folha de pagamento tenham que se curvar à interferência de um vereador, que quer impor o horário de 22h para o fechamento dos bares. Tutelar a vida dos outros não é democrático. É muita hipocrisia! Se os bares estão abertos durante as madrugadas, é porque tem público gastando. Imagine Rio, São Paulo, Belo Horizonte parando para atender a demagogia dos políticos, que, a bem da verdade, querem fugir de suas responsabilidades, no que se refere à segurança pública.
Não consta, nesse ridículo projeto de lei, a diferenciação entre a gritaria de uma igreja neopentecostal para o som de um piano ou de um violão. Cultura não é barulho. A lei deve ser executada, mas com discernimento. Essa cidade está cada dia mais triste, com ambientes fechados, climatizados, perdendo a simplicidade. Saudades do Bar Esperança, da Bebel, do Redentor e de tantos outros que marcaram nossa História, que nem fechavam. A verdade é que voltamos à Idade Média, onde um Tribunal da Inquisição moderno, e ao mesmo tempo retrógrado, quer punir não só os donos dos bares mas os músicos, os técnicos de som, os garçons, os cozinheiros e o público, impedindo que os bares disponibilizem música ao vivo aos seus clientes.
Por essa lei, uma única denúncia formal de um vizinho incomodado com um som vai gerar um inferno astral ao dono do bar e, consequentemente, o fechamento do seu estabelecimento se ele não tiver condições de investir, em média, uns R$ 70 mil com tratamentos acústicos, engenheiros ambientais e projetos para poder, assim, adquirir seu alvará. O que vai acontecer é que, em pouco tempo, os bares, com shows mais próximos da MPB, da música regional e acústicos, desaparecerão por completo da cidade. Só os grandes empresários poderão disponibilizar música ao vivo em seus botecos.
Se esse vereador não sabe, o pessoal que trabalha na noite também tem família e contas para pagar. Essa lei vai atingir quatro setores: os músicos, que não terão um local para apresentar seus shows; a população da cidade, que não encontrará uma oferta variada de espaços para se divertir; os trabalhadores que atuam na noite cultural, que serão demitidos após o fechamento dos estabelecimentos; e haverá a evasão de artistas da cidade.
Ninguém quer acabar com o sossego das pessoas, uma vez que a maioria das apresentações ocorre só de quinta a sábado, no máximo até as 23h30. Nesse momento, se tivéssemos gestor na cidade, os órgãos do Governo estudariam a melhor solução, no sentido de estabelecer uma boa convivência que atenda tanto aos anseios dos moradores quanto aos da classe artística, dos comerciantes e dos frequentadores dos estabelecimentos. A solução não é acabar com esses locais, mas sim tolerar e aprender a conviver… Saudades da Juiz de Fora que foi mais tolerante, alegre e com acesso à vida cultural.
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