Num passado não muito distante, me choquei com a triste realidade que, até então, não me permitia aceitar: toda a construção de saberes, toda a legitimação trazida a mim por mestres do ensino, profissionais, especialistas, pessoas qualificadas a edificar minha formação como ser, se desqualificaria diante da polarização político-social que se instituía em nossa sociedade.
Seguindo na contramão da ciência, da cultura, da informação qualificada, estavam familiares, amigos e até mesmo alguns dos que se mostravam aptos ao conhecimento abrangente – aquele que não se limita a crendices pessoais e padrões sociais – mostrando, em palavras e atitudes, com destemido orgulho, a fuga incessante da realidade, pautada em fatos e dados.
Foi, e ainda é, entristecedor enxergar o quão limitados são alguns daqueles que, até então, eram grandes referências para mim. Anular espaços por mim criados em um altar particular seria uma difícil missão de reorganização interna, mas necessária.
Momento único vivido por um indivíduo inundado de sentimentos e aspirações, mas comumente experienciado por milhares de pessoas que, assim como eu, viam o despir de vestes costuradas pelas frágeis linhas da ignorância. Vestes estas que, por tempos, ficaram esquecidas, deixadas de lado e encobertas pelo falso – e até então desconhecido – sentimento conjunto de egoísmo, sobreposição das crenças pessoais e esgotamento total de humanidade e compaixão.
O exemplo máximo disso se mostra nas milhares de vidas que, além de não serem cuidadas, foram desprezadas e ridicularizadas; impostas à interrupção de suas vivências e retiradas abruptamente de nosso convívio, não oportunas de contribuírem justamente com aquilo que lhes foi retirado; vidas fadadas às vontades de algozes, escritores de um recorte temporal digno de tiranos, compondo um episódio sombrio da história humana.
Como arremate final, vimos a produção da roupagem de um espetáculo incrédulo que transformaria toda uma nação em um triste e antiquado palco de horrores, iluminado pelos devaneios da intolerância e do ódio. Porém, nunca é tarde para reescrevermos a peça maior. Buscarmos novos atores, sermos nós mesmos os protagonistas da mudança.
Neste grande teatro chamado planeta Terra, sempre haverá, mesmo que somente através de muita luta, espaço para a criação de novas produções de dignidade ampla, do pleno saber e do bem-estar social, como ideologia primária de cada ser.
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