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Crianças… vivas!

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Na semana em que o Papa Francisco anunciou o título de sua próxima Exortação Apostólica sobre o meio ambiente, “Laudate Deum” – que significa “Louvado seja Deus”, também chamada de “Laudato Si 2”, houve no país diversas oportunidades para se debater o cuidado e a proteção à vida, não propriamente da nossa Casa Comum, mas das crianças… mais das que viriam a ser do que as que já são. Infelizmente!

Nessa semana em que tivemos dois dias dedicados a dois santos, dois irmãos e gêmeos, cuja devoção popular encarregou de os vincular à celebração das crianças, e o sincretismo os associou aos orixás “Ibeji”, filhos gêmeos de Xangô e Iansã, a alegria que deve marcar a infância foi comemorada com correria pelas ruas e guloseimas… algumas até consagradas! O que é muito bom! Criança precisa de proteção, cuidado e gostosuras!

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Mas, o que dominou as discussões foi o debate em torno do aborto. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil mobilizou os católicos quando, por meio de sua assessoria jurídica, apontou “incoerências técnicas” na condução da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 442 que versa sobre a descriminalização do aborto.

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A nota “Vida: direito inviolável” afirma que “jamais um direito pode ser exigido às custas de outro ser humano, mesmo estando apenas em formação. O fundamento dos direitos humanos é que o ser humano nunca seja tomado como meio, mas sempre como fim”, e conclui dizendo que “jamais aceitaremos quaisquer iniciativas que pretendam apoiar e promover o aborto. Daí, voltaram os debates sobre quando a vida começa e o direito ao nascimento… o que, de longe, não significa o direito à vida.

A religiosa da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora, filósofa e teóloga, Ivone Gebara afirmou que a nota lhe moveu as entranhas de tristeza e espanto, destacando o uso da palavra “jamais”.
Ela indaga: “Por que pensam ou falam especificamente de crime e de defesa da vida quando se trata de interrupção da gravidez? O que sabem das razões e situações das várias interrupções da gravidez? É quem são as pessoas vítimas das advertências dos bispos?

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“E mais, por que culpabilizam as mulheres e se esquecem dos homens, dos estupradores, da violência impetrada continuamente contra mulheres e crianças? Por que se arvoram a exigir do Estado laico a obediência às suas normas religiosas e não exigem cuidados e direitos às cidadãs e aos cidadãos marginalizados ou excluídos?”

“Além disso, sabemos bem que na prática quem tem dinheiro tem direito ao aborto! Para quem possui o ‘vil metal’ esse procedimento é tornado legal, pois não sofre nenhuma censura pública. (…) É triste constatar isso quando gastamos anos na Igreja Católica falando da opção preferencial pelos pobres!”

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De fato, assim como para as mulheres pobres não está assegurado nem amparo nem uma interrupção da gravidez segura, para as crianças pobres não está assegurado o direito à vida como ao nascer. A taxa de mortalidade entre crianças pretas e pardas brasileiras é dois terços superior à da população branca da mesma idade.

Há que se defender a vida e sua transcendência. “Mas de qual vida defendem a transcendência?”, pergunta a religiosa. E é dela que nos vem um convite difícil, mas necessário de “nos colocarmos no lugar daquelas que sofrem, a imaginarmo-nos em seus corpos, em suas carências, em suas angústias, em seus temores diários.” Que todos tenham direito à Vida e a vida em abundância. Viva às crianças… vivas!

 

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