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Pela banalização do impeachment

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Quando a conjuntura na qual se vive atinge o ápice da desordem – e as soluções que nos chegam parecem frágeis demais para contê-la -, é natural que nos apoiemos em remédios rudimentares, simplistas, quase radicais, que expõem os já debilitados suspiros da paciência que nos resta. “Tirem a presidente!”, bradam, assim, multidões de insatisfeitos país afora. E é compreensível que nosso senso de justiça exija que os responsáveis pelas trapalhadas que nos assolam suportem o ônus de suas imprudências. E o peso da culpa recai sobre o cargo de maior visibilidade – a chefia do Executivo -, enquanto os infiltrados na massa de descontentes já estimam seus lucros.

As manifestações contra o Governo petista são, sim, legítimas, bem como é autêntico o movimento dos que, apoiados na defesa das políticas sociais, subestimam a gravidade da atual penúria dos índices econômicos e o contraste entre os discursos de campanha e a realidade alarmante que se instaurou no país. É de nula credibilidade, porém, que alguns dos adversários assumam as vestimentas de “arautos da moralidade e da ética”, com muitos dos homens públicos gozando a serenidade que as digitais apagadas das cenas dos crimes permite. É ainda menos cabível que o partido da situação desqualifique seus antagonistas mediante a transformação de um dispositivo constitucionalmente previsto – e seu artefato bélico cativo enquanto oposição -, o impeachment, no que agora taxam de “golpe”.

Há um ponto no qual se exige maior lucidez de ambos os lados apoiadores dessa discórdia, formados pelos próprios eleitores: a nossa trágica condescendência com os artifícios empregados pelos oponentes em suas campanhas e que abrangem de promessas impraticáveis, omissões, acusações que visam desviar o foco das próprias impurezas até tudo o mais que permita a construção de uma imagem pessoal que, desviada da realidade, transforma, em voto, a esperança fatigada dos eleitores. Não existem penalidades – e estas deveriam primeiramente vir das urnas – contra o uso das mentiras ou contra os atos que não nos convêm ou nem sequer nos são benéficos. Pelo contrário, aceitam-se os embustes, que, tal qual um jogo de vencedores e vencidos, chegam a transformar-se em argumentos para a defesa dos que resistem como simpatizantes dos partidos envolvidos. A crise, mais do que política e econômica, é estrutural e representada não apenas pelo trato com a coisa pública mas, também, pela tolerância com que lidamos com os desfeitos de nossos representantes.

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Resta-nos respaldar o drástico: ao facilitarmos os procedimentos para destituir, ao primeiro sinal de descumprimento das plataformas de campanha, o titular de um cargo público da função a que foi eleito, sem melodramas quanto a traumas ou cicatrizes que não se fecham sem longos períodos de inconstância, daremos a real dimensão da responsabilidade que deve sustentar uma trajetória política. E não haveria escapatória: começaríamos pela presidente. E os olhos se voltariam, com a mesma determinação, para os seus sucessores. E, quanto aos outros cargos eletivos: que se cuidem! Seguiremos de olho!

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