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Espiritismo, política e justiça social

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Sou espírita, mas, sinceramente, não entendo essa sanha e esse pavor de alguns “espíritas” a respeito da abordagem sobre questões políticas e sociais dentro do espiritismo. Muitos são obcecados com isso e fazem um terror sem propósito.

Suponho que estes tais ignoram a atuação de duas das maiores referências do movimento espírita, qual seja: Jesus, considerado guia e modelo, e Allan Kardec, identificado como o fundador e codificador da Doutrina Espírita. É certo que ambos jamais se envolveram em questões partidárias e querelas da politicagem cotidiana, contudo, é evidente que agiram totalmente engajados na transformação da realidade e na promoção das pessoas através da prática constante e integral do amor, muito bem sintetizada no termo “caridade”, abrangendo pensamentos, sentimentos, relações e instituições.

Parece-me que estes espíritas avessos à política e justiça social usam de um expediente esdrúxulo para “marcarem posição” pela via da disseminação do terror no meio espírita, além do sofisma de que o espiritismo não se envolve com política, como se esse campo fosse restrito ao espectro partidário, posto que ignoram a definição básica de Aristóteles, quando assevera que o homem é um animal político, ou seja, é um sujeito de cidadania, considerando aqui sua ação na sociedade, suas responsabilidades e consequências, bem como sua inclusão e o acesso aos meios justos para exercer essa mesma cidadania. O Espiritismo jamais será contra estes aspectos, mas, coerentemente, apoia essencialmente, como podemos depreender de sua própria filosofia e ética, em atenção à lei de justiça, amor e caridade, pois as desigualdades sociais são obra do homem, não de Deus (Livros dos Espíritos: 806), e, portanto, devem ser superadas, com foco na inerente “igualdade da natureza e dos direitos sociais de todas as criaturas humanas” (Revista Espírita, 1867, junho).

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É certo que a Doutrina Espírita, em seus princípios e fundamentos, se sustenta integralmente, sem necessidade de enxertos e distorções ideológicas absurdas de toda sorte, tanto à esquerda quanto à direita. Contudo, a valorização da política como espaço de cidadania é algo intrínseco, e a defesa da justiça social afigura-se como um problema histórico grave, recorrente, exaustivamente pesquisado, que se interpõe entre o presente e a felicidade futura que nos aguarda no horizonte quase infinito da evolução espiritual. Por isso, negligenciar essa questão é, no mínimo, desinteligência, quando não, pura má-fé.

Se, conforme exarado na questão 930 (Livro dos Espíritos), “numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome”, é urgente a conscientização do movimento espírita de que os princípios, valores e ideais que defendemos não se concretizarão sem a nossa ação política e cidadã efetivamente comprometidas com um mundo melhor.

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