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Era uma vez uma onça-pintada

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Na minha adolescência e juventude, havia uma revista chamada O Cruzeiro (talvez a mais importante da época), que continha uma página especial denominada “O amigo da onça”, que trazia uma crítica política, cultural ou de costumes, sempre carregada de muito humor, mas que prestava um grande serviço. Ela nos levava a questionar e a querer saber além do que a versão oficial nos oferecia, sempre de forma leve e descontraída. Começa aí, talvez, a minha simpatia pelos felinos tão lindos.

Mais tarde, já na Faculdade de Filosofia, fazendo o curso de História, um professor muito querido contava-nos que sua mulher viera de lugar chamado Serra da Onça, e que passara a chamar o local apenas de Serra, pois sua mulher viera morar em Juiz de Fora. Essa história fazia-nos rir muito, e minha simpatia pelas onças ia se tornando cada vez maior. Isso tudo muito antes do despertar dos interesses ambientais e ecológicos que passaram a fazer parte das agendas de todos nós.

Até que, neste ano tão triste, repleto de ameaças e inseguranças resultantes dos desgovernos e propostas desastradas e inadmissíveis governamentais, Juiz de Fora, impossibilitada pela crise geral que a impede de realizar comemorações pelo seu aniversário, nos surpreende com o oferecimento de uma onça-pintada que, por uns dias, nos distraiu, nos fez esquecer das preocupações com os cortes das reformas orçamentárias e nos levou ao desejo mágico de encontrá-la, escondida embaixo de nossa cama ou em cima de nosso sofá.

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E, assim, assistimos encantados a um show completo, encenado pela onça e pelas diversas instituições que participaram de sua captura e, ao mesmo tempo, da proteção dos cidadãos e da protagonista, que, como na canção de Chico Buarque: “desfilava distraída pelas galerias sob o clarão de um novo dia sempre em exposição”.
Isso tudo sem que um só tiro fosse disparado, provando que as armas são dispensáveis, quando o suporte logístico é montado para alcançar uma vontade política que conta com o apoio de todos.

Ganhamos, enfim, uma demonstração de competência política, social, ecológica ambiental, científica, civil, militar e midiática, em que todos agiram na medida suficiente para o sucesso da operação, sem preocupação de vedetismo e com a discrição que eventos desse porte exigem.

Por isso, o aniversário é de Juiz de Fora, mas o parabéns é nosso, de seus habitantes, e da onça-pintada, que agora vive em nossos corações.

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