Nesta semana, a Igreja está celebrando o Mistério Pascal de Jesus, mistério que rememora as narrativas bíblicas de sua paixão, morte, ressurreição e ascensão ao céu. Qual a importância dessa recordação e o que isso significa para nossas vidas?
Primeiramente é preciso pensar que o mistério pascal não é um evento descolado do resto da vida de Jesus, mas consequência do mistério da encarnação e de toda a sua existência, marcada por palavras e ações perturbadoras para muitos. Jesus se fez humano para nos revelar quem é Deus, quem somos nós e como devemos viver na relação com Deus e com toda a sua criação. Nos revelou que Deus é Pai de todos os humanos, no sentido mais amplo da paternidade/maternidade divina, para que nunca nos esqueçamos que somos irmãos/irmãs e que precisamos constantemente trabalhar para reconstruir e manter essa fraternidade, rompida no início dos tempos por Caim e, no fim da vida de Jesus, pelos religiosos e governantes daquele tempo.
Celebrar e viver bem a Semana Santa não consiste apenas em participar de atos devocionais e litúrgicos que remetem principalmente ao sofrimento de Jesus, capazes de emocionar momentaneamente a muitos. Nesta semana celebramos um mistério, que pode ser assim chamado por ser uma realidade que nos supera, mas que também nos revela algo muito importante.
A ideia de um Deus ‘impotente’, fragilizado pela perseguição, tortura e morte de cruz gerou no povo daquela época, mas também no de hoje, uma incompreensão. Muitos queriam e ainda querem um Messias forte e poderoso ao jeito humano, que vence pela força das armas as forças do mal e da morte, contrárias a si. Não compreenderam e não compreendem ainda o poder do amor, que não rejeita a cruz, que vence sem fazer vencidos, que perdoa os inimigos e que chama a todos para um Reino que está para além dos reinados deste mundo.
A paixão e a morte de Jesus deixaram amedrontados e decepcionados os que o seguiam. Significou, em um primeiro momento, um grande fracasso. Um Filho de Deus, que diz “eu e o Pai somos um”, que morre na cruz – morte dos que eram considerados desprezados por Deus – não fazia nenhum sentido. No entanto, sua ressurreição, atestada primeiramente pelas mulheres, trouxe novas perspectivas e fez renascer a esperança em um grupo abatido pela tragédia. E é essa esperança que ainda hoje nos conduz. É ela que nos permite crer que, com a força do alto, podemos construir, juntos, apesar de tudo, um mundo irmanado, fraterno, solidário, na perspectiva do Reino proclamado por Jesus, onde os pobres, os doentes, os aprisionados, os vulneráveis e abatidos tenham vez, voz e direito a viver com dignidade. Deixemo-nos questionar!
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