Em sua conferência 25, que tratava da psicanálise no longínquo 1949, Freud escreveu: “Não tenho necessidade de introduzir ansiedade para vocês. Cada um de vocês já tem experenciado essa sensação ou, falando mais corretamente, esse estado afetivo, em um momento ou outro de suas vidas”. Refletindo sobre tais palavras, podemos afirmar que ansiedade constitui uma das mais pervasivas e genuínas de todas as emoções humanas, permeando todas as culturas.
Ansiedade, juntamente com outras, como raiva, tristeza, desgosto, medo, é considerada uma emoção negativa básica. Um dos pontos de partida para a pesquisa psicológica sobre ansiedade é sua natureza multifacetada, podendo ser entendida como moderada ou extrema, transitória ou duradoura e útil ou lesiva. Há, também, uma gama de diferentes maneiras de experenciar ansiedade, com diferentes consequências para o funcionamento e o comportamento de uma pessoa em seu cotidiano. Ansiedade é uma resposta a ameaças externas, algumas vezes realísticas, outras, exageradas.
Entender ansiedade requer que se observe como as pessoas manejam ameaças, bem como suas expectativas de enfrentamento destas, que terminam como vencedoras ou fracassadas.
Ansiedade refere-se a um estado psicológico em que a pessoa se sente desconfortável, preocupada devido a circunstâncias ambíguas, isto é, ansiedade se refere a sentimentos gerais de desconforto e inquietude em relação a uma forma de ameaça ou perigo não especificada, difusa, incerta e frequentemente sem forma. Devido à natureza ambígua do estímulo provocando ansiedade, a pessoa fica incerta sobre como agir, uma vez que a natureza e o lugar da ameaça são obscuros. A resposta comportamental da pessoa para estímulo ambíguo pode ser desproporcional em relação à ameaça real. Ansiedade frequentemente tem um pronunciado elemento social. Como seres sociais, muitas de nossas preocupações envolvem como os outros no veem e nos criticam.
Contrastando, medo refere-se a uma resposta comportamental e fisiológica adaptativamente intensa para a ocorrência de um estímulo específico identificado (por exemplo, um animal perigoso). O fato de o perigo ser real e endereçado, a pessoa se sente impelida a agir, com o medo sendo “uma chamada para a ação”: ficar paralisado, lutar ou fugir. Embora a distinção pareça muito na prática, há uma considerável intersecção entre medo e ansiedade. Ambas compartilham um número de elementos altamente similares, incluindo reações cognitivas a uma ameaça ou perigo no ambiente, sentimentos de preocupação e apreensão, desconforto e tensão, fortes manifestações somáticas e reações do sistema nervoso, bem como sensação de que algo ruim está para acontecer, com a urgência de fazermos algo sobre isso (escapar, atacar, etc.).
Cumpre lembrar que medo e ansiedade também são creditados como sendo valores adaptativos do organismo. A seleção evolutiva dessas emoções levando o ser a identificar, perceber e agir adaptativamente a situações potencialmente perigosas no ambiente imediato. Por tudo isso, as implicações da ansiedade, afetando inúmeras ações do cotidiano, tornam imprescindível seu conhecimento nas ações do dia a dia.
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