Uma das características que mais distinguem a raça humana das demais espécies de símios é a capacidade de falar. Através do uso da palavra, o homem desenvolveu e continua aperfeiçoando o vocabulário, transmitindo de geração em geração informações que levam ao acúmulo do conhecimento, à formação da cultura, razão pela qual a espécie Homo Sapiens suplantou as demais, como afirmam os cientistas. Talvez por ser tão natural, o ato de falar tornou-se quase instintivo; fala-se sem pensar, sem se dar conta e, simplesmente por falar, e assim, facilmente, erramos.
Ao falar, construímos imagens, porque toda frase é uma projeção das ideias residentes na alma e alojadas nas câmaras do pensamento, originando frases: duras, como aço; reconfortantes, como o sol no inverno; violentas, como o fogo, suaves, qual a brisa. Palavras podem ser de bênçãos, luzes, trevas, consolos, charcos ou realizações. Saber compor as expressões verbais, construindo-as com as melhores palavras, frutificadas nos férteis terrenos da alma de cada um, é o dever de todo Cristão.
Nas palavras explicativas de Pedro, o Pescador de Almas, ecoam os ensinos do Mestre Jesus: “Ainda não compreendeis que tudo que entra pela boca desce para o ventre, e é lançado fora? Mas o que sai pela boca; procede do coração, e isso contamina o homem” (Mateus: 15).
Emmanuel, pelas mãos de Chico Xavier, escreve: “Sabendo nós que o Criador, ao criar a criatura, criou nesta mesma criatura o poder de criar, é forçoso reconhecer que toda frase cria imagens e toda imagem pode criar alguma coisa”. Assim sendo, por esses dois ensinamentos, podemos compreender que de pouco ou nada servem as palavras vãs.
O imperador Marco Aurélio, o Magnânimo, criava discursos de significação literária imortal, ao mesmo tempo, em suas palavras determinava o martírio de cristãos, acreditando ele, assim, saudar as virtudes do Império.
A igreja medieval em seu vocabulário, na opulência do Latim, envolto em música sacra, não titubeou em utilizar o Tribunal do Santo Ofício para lançar em martírio da carnificina todos aqueles que discordavam de seus ditames, violando o ensino primeiro do Cristo: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. No beletrismo do romantismo realista do século XIX, o suicídio é firmemente tratado como uma alternativa plausível, diante os problemas a serem enfrentados ao longo de uma vida. Hoje, em nosso país, uma grande parte da classe política utiliza-se das palavras inseridas no jargão jurídico, para distorcer a verdade, de maneira a permitir que seus crimes continuem impunes diante das leis do homem e acobertados pela palavra vulgar.
Seja como for a vida em redor, escrevamos o correto, para que se tenha igual ação. Se a gramática regula a retidão das palavras, a conduta deve obedecer às leis morais. Se o fogo descontrolado provoca incêndios, a luz disciplinada pelo vidro da lâmpada ilumina toda a caminhada.
Em momentos de não saber como se posicionar diante de um diálogo, lembre-se de Jesus quando disse: “Seja a vossa palavra sim, sim; não, não; o que excede disso é do mal”.
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