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Os militares, o golpe de 1964 e o nacionalismo

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Em 1964 houve, sim, um golpe de estado, e os militares assumiram o poder.

Eu, democrata radical, fui, e sou, até hoje, contra o movimento. Acho que faltou por aqui luta ideológica e intelectual por imprensa e academia.
Faltou discussão aberta e pública de ideias. Lembra muito os tempos correntes. Muita gritaria e nenhum diálogo produtivo.

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No início da década de 1960, já tínhamos gente como os franceses Raimond Aron e Sartre, que, do final dos anos 1950 a meados dos 1970, incendiaram os debates dentro da democracia francesa.

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No entanto, faltou-nos um ativismo de ideias de intelectuais como Roberto Campos e Celso Furtado, para citar duas inteligências de peso, e que poderiam ter redirecionado as elites para uma solução emotivo-racional dentro de um regime democrático.

Eu partilho da opinião de que todos os grupos políticos, na época, tinham o seu projeto de golpe em andamento. A começar por João Goulart, aliados e colaterais, que forçavam a reeleição, mesmo sabendo que era anticonstitucional, e mobilizavam ferrenha oposição. Da mesma forma que Lacerda e grupos de direita. E deram o golpe os que tinham armas e ponto. Os militares, claro!

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O prejuízo maior, para mim irremediável, foi institucional. Até agora se fala do fatídico março de 1964, mobilizando nervos e cérebros; e estendendo a conversa, agora fiada, para os dias atuais.

Deu ruim!

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Tudo isso para colocar pimenta nessa feijoada psicodélica e lembrar um fato interessante contado por Ozires Silva, fundador do ITA e da Embraer, no programa Roda Viva, da TV Cultura, que mostra bem o papel do acaso e da oportunidade na história.

O coronel contou que, certo dia, em 1968, o ditador-presidente Costa e Silva rumava para São José dos Campos, e o aeroporto de lá estava fechado. Não teve jeito, e o avião pousou em Caçapava. Quem o recebeu foi o então capitão Ozires Silva.

Muito jovem e bom de papo, Ozires ousou e apresentou ao presidente uma série de ideias para a fundação de uma fábrica de aviões genuinamente brasileira.

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Foi de tal maneira convincente que, ao subir no avião, Costa e Silva disse que iria pensar no assunto.

Semanas depois, chamou Ozires em Brasília e o encarregou de fazer e dirigir o projeto da Embraer, que é o que é.

No decorrer dos tempos, como um patriota verdadeiro e útil, Ozires Silva percebeu que a privatização da companhia era necessária e inevitável.
Assim como é hoje a fracassada Joint Venture armada com a Boeing.

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Costa e Silva era chamado de burro e despreparado pela elite da época. Mas, só por ter criado a Embraer, para mim, o mito foi desmentido.

E, convenhamos, Costa e Silva foi muito mais perspicaz e eficiente do que muito governo civil que veio após a redemocratização.

Alguém duvida?

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