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Choramos juntas, lutamos juntas

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Sim, o choro nos pertence. Nós podemos chorar.

A ministra chorou. Durante reunião ministerial com o presidente Lula, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, se emocionou ao relatar os desafios enfrentados em sua gestão. E deve ter chorado muitas vezes no governo anterior ao presidir a Fiocruz, instituição histórica de ciência e tecnologia, enquanto o país era governado por um negacionista que se atrevia a receitar medicamentos inúteis enquanto centenas de milhares de pessoas morriam durante a pandemia de Covid-19.

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O choro é uma resposta espontânea às emoções. É um mecanismo de descompressão, de alívio. Uma válvula de escape para nos esvaziar do estresse, da tristeza e da dor.

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O interessante é que, ao ver uma mulher chorar, há sempre associação com fraqueza, com debilidade ou, como tentaram fazer, com algo digno de pena. De competente, a ministra passa a ser uma coitada.

Desde a infância, os meninos eram ensinados – e alguns ainda são – que homem não chora e que a mulher, por sua vez, chora porque é frágil. São duros estereótipos, que fazem a sociedade enxergar num choro determinada competência ou capacidade.

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Lula chorou várias vezes:

“O presidente Lula chorou hoje ao fazer um discurso ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em um evento sobre florestas na COP28.”

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“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu um discurso de 19 minutos no ato comemorativo ao aniversário do PT nesta 2ª feira (13.fev.2023) e chorou 3 vezes”.

“Trabalhadores e trabalhadoras desempregados, exibindo nos semáforos cartazes de papelão com a frase, que nos envergonha a todos: ‘Por favor, me ajuda'”, disse Lula que, em seguida, chorou.
Mas não lhe foram atribuídas fraqueza ou pena. Pelo contrário, o registro de se ver um presidente chorar evidenciou a sensibilidade que anda afastada da humanidade.

Chegaram a insinuar que a ministra deveria “cair” depois do choro. Inúmeras foram as narrativas construídas, mas poucas avaliaram os desafios gigantes, os problemas diários, a Emenda 95 – que restringiu o financiamento para a saúde e para a educação – ou os prejuízos trazidos pelas reformas previdenciária e trabalhista, que contribuíram para o adoecimento das pessoas e dificultaram o acesso à assistência. Tampouco citaram os anos anteriores de desgoverno negacionista, cujo presidente, além de todos os despautérios cometidos na pandemia, sentia orgulho de negar a ciência e a pesquisa.

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O choro é profundo. E é necessário um olhar político para entender o significado das palavras que o desmerecem: os ataques dos que querem a pasta e que precisam, para isso, eliminar a primeira mulher a conduzir esse ministério.

Já vimos esse filme. A presidenta Dilma foi alvo de todo tipo de desqualificação moral, pessoal, física e política. Alvo de misoginia, que é a repulsa, desprezo ou ódio contra as mulheres, colocando-as numa categoria de subalternidade em relação aos homens.

Neste mês de março, mês das mulheres, precisamos nos debruçar sobre o significado de termos usados para além de seu significado teórico, focando no que representam, na prática, na vida das mulheres.

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Que a superação dos preconceitos e que a igualdade nos sejam asseguradas, do choro aos direitos e possibilidades reais. Na vida diária. No trabalho, na escola, em todos os espaços sociais e familiares.

Toda energia e luz no caminho da ministra Nísia Trindade. A gente chora e luta junta. Mexeu com uma, mexeu com todas.

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