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Passou o carnaval, mas o assédio continua! Até quando?

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Passou o carnaval, mas o assédio continua!

Para enfrentar e vencer essa luta, é preciso, primeiramente, que nos demos conta de que o assédio é subproduto de uma ideologia que há séculos vem pautando a relação entre homens e mulheres. Sim, o assédio é subproduto da ideologia da dominação masculina! Sob a lógica dessa dominação, os interesses masculinos são autorreferentes, e por isso buscam se impor unilateralmente, engendrando padrões assimétricos, autoritários, nas relações entre homens e mulheres.

Um exemplo – extraído da realidade local de Juiz de Fora – demonstra o que ora afirmamos: não faz muito tempo, as câmeras do sistema “Olho Vivo” puderam flagrar, em pleno Calçadão da Halfeld, o momento em que um homem segurava com força uma mulher, demonstrando ameaçá-la com gestos e com palavras. Preso em flagrante, ele foi conduzido à delegacia. Apesar de as imagens demonstrarem a prática de assédio, o homem negou ter ameaçado a mulher (na verdade, sua ex-companheira) e ter violado uma medida protetiva. Ao ser indagado por uma jornalista sobre o porquê de toda aquela violência, ele foi objetivo: “Ela é minha”!

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Durante o carnaval, situações como esta ou assemelhadas a esta são mais ocorrentes e recorrentes, aumentando em até 80%. Como não nos assustarmos com isso? Como não nos indignarmos? O assédio implica constrangimento, que, em essência, não é outra coisa senão isto: uma forma de violência psicológica contra a mulher. E, sendo violência, viola a dignidade feminina, afronta a lei, desafia a todas nós e nos faz perguntar: como reagir?

Foi pensando nisso que surgiu a Campanha “Não é Não”, criada em 2017, por um coletivo de mulheres e que, em 2020, chegou a nada menos do que 15 estados, nos quais se distribuíram, aproximadamente, 200 mil (!) tatuagens provisórias, onde o lema da campanha se acha marcado no próprio corpo das mulheres: “Não é Não!”

Há que atentar para o caráter altamente simbólico do gesto: ao fazerem isso, as mulheres não apenas expressam sua recusa peremptória contra todo tipo de relação por elas não consentida ou não permitida, mas também demonstram sua consciência acerca daquilo que é, a um só tempo, pressuposto e expressão da dignidade feminina: a autonomia, ou seja, a capacidade de expressar o seu consentimento ou manifestar sua recusa, além da capacidade de autodeterminar-se ou fazer suas escolhas existenciais.

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Daí se conclui que, ao assediar, o homem agride a mulher na sua condição de ser autônomo. Ao dizer “ela é minha”, o agressor expressa sua índole dominadora e vê sua ex-companheira como mera coisa ou simples objeto sobre o qual ele exerce um pretenso “direito” de posse ou de propriedade. Não a vê nem a considera, portanto, como ser humano, merecedora de respeito e de consideração, portadora de sentimentos, necessidades, desejos e aspirações.

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