Segundo relatórios da NOAA (Agência Oceânica e Atmosférica – EUA), o ano de 2014 foi o mais quente do planeta desde o início dos registros em 1880. Essa informação confirma, cientificamente, nossa percepção empírica quando afirmamos que nunca esteve tão quente em Juiz de Fora. A preocupação aumenta, pois as altas temperaturas ocorrem num momento em que a crise hídrica, que começou em 2014, ainda se faz presente, em especial na região Sudeste, onde os níveis dos reservatórios de abastecimento e das hidrelétricas estão muito baixos. Tudo indica que 2015 será mais um ano de escassez, uma vez que as chuvas de janeiro estão abaixo da média.
Temperaturas elevadas e escassez de água formam uma combinação perigosa com reflexos negativos para a geração de energia (risco de apagões), agricultura, indústria e abastecimento urbano. O desafio está lançado: como devemos enfrentar a crise hídrica? Crise esta agravada pela condução ineficiente da Política Nacional de Recursos Hídricos. Racionamentos, redução da pressão na distribuição, rodízio, sobretaxa, captação do volume morto, perfuração de poços artesianos e bônus para quem reduzir o consumo foram as principais ações adotadas no país.
Juiz de Fora optou pelo rodízio, uma manobra técnica importante e contemplada no Plano de Saneamento Básico do município. O rodízio é uma estratégia para garantir o abastecimento e conservar a água em nossos mananciais.Tecnicamente funciona bem, mas poderia ser melhor se houvesse uma maior conscientização da população local. Ainda presenciamos pessoas desperdiçando água tratada (potável) na lavagem de calçadas e automóveis. Por isso, precisamos intensificar as campanhas de informação e educação para o uso racional da água. Se a estiagem persistir, e os trabalhos de informação não funcionarem, teremos que adotar medidas mais radicais, como a “sobretaxa” para forçar redução de demanda.
A longo prazo, as medidas devem enfatizar, com urgência, a recuperação dos mananciais. Basta visitar os mananciais de abastecimento de Juiz de Fora e da Zona da Mata para percebermos a baixa densidade de vegetação no entorno. O reflorestamento das cabeceiras de drenagem, nascentes e margens de rios é fundamental para aumentar as vazões e os estoques de água nos aquíferos e represas.
Vale lembrar que o planejamento urbano também tem papel importante, pois, sem este instrumento, o crescimento desordenado das cidades aumenta a demanda não planejada por água, impermeabiliza excessivamente o solo e contribui para a contaminação de lençóis freáticos, reservatórios e rios. Estamos diante de um problema complexo, uma vez que a água interliga tudo, além de ser um recurso vital que demanda postura ética para seu uso justo e sustentável.
No entanto, nossa preocupação com a questão da água não deve se restringir aos momentos de crise, pois, mesmo em tempos de abundância, ainda presenciamos a “escassez”, uma vez que expressivos contingentes populacionais ainda não têm acesso à água tratada em nosso país.