Conforme comentamos nesta coluna em outubro, realizou-se em Roma a primeira sessão do Sínodo sobre a sinodalidade. Seu objetivo é usar esse instrumento de governo da Igreja, para aperfeiçoa-lo conforme o espírito do Concílio Vaticano II. Trata-se de um projeto de longo prazo e é nessa perspectiva que seus primeiros resultados devem ser avaliados. Para sua análise recorremos ao Relatório de síntese divulgado logo após a conclusão dessa série de reuniões plenárias.
A descrição do evento é animadora: “Os Bispos, unidos entre si e com o Bispo de Roma, tornaram manifesta a Igreja como comunhão de Igrejas. Leigas e leigos, consagrados e consagradas, diáconos e presbíteros, juntamente com os Bispos, foram testemunhas de um processo que pretende envolver toda a Igreja e todos na Igreja.” Reafirmam então que Igreja somos todos e todas que, pelo Batismo, a ela aderimos, conforme a doutrina do Concílio Vaticano II.
O Concílio “foi uma espécie de semente lançada ao campo do mundo e da Igreja” onde “desabrochou e cresceu”. Nessa semente o Sínodo de 2021-2024 busca a energia para “realizar aquilo que o Concílio ensinou sobre a Igreja como Mistério e Povo de Deus”, de modo a melhor compreender e praticar o Evangelho e assim “prolongar sua inspiração e lançar de novo no mundo de hoje a sua força profética.”
Esse “caminhar juntos” – que é o significado da palavra sinodalidade – não é importante apenas para a Igreja, mas também para o mundo, que hoje, mais que nunca, precisa de quem lhe dê o testemunho da Fraternidade – a Amizade social, como diz Francisco – para curar a humanidade ferida pelo individualismo e pela ambição desmedida. Para que esse testemunho profético tenha credibilidade, a Igreja precisa assumir a sinodalidade como “expressão do dinamismo da Tradição viva”, apresentando “um modo de ser Igreja que articula comunhão, missão e participação”. Assim ela se mostrará ao mundo como “cristãos a caminhar com Cristo, em direção ao Reino, juntamente com toda a humanidade”.
Abre-se agora nova fase de reflexão nas bases, por meio do método de conversação no Espírito, que tem por finalidade “discernir aquilo que o Espírito diz às Igrejas”. Deve ser algo mais que o simples diálogo: uma conversação que deve levar à conversão. Isto requer “a escuta da Palavra de Deus atestada na Escritura, o acolhimento da Tradição e do magistério da Igreja e a leitura profética dos sinais dos tempos.” Ao entender que a Tradição da Igreja não é um fato do passado, mas uma memória que ao tornar-se presente permite abrir novos horizontes, o Relatório dá as balizas metodológicas para a reflexão sobre a sinodalidade em todos os espaços eclesiais.
Essa reflexão deve ser coordenada em cada país por sua Conferência Episcopal. Os seus resultados devem ser apresentados no mês de outubro de 2024, quando a Assembleia volta a se reunir para concluir o seu trabalho, oferecendo-o ao Bispo de Roma.
Cabe agora a nós, leigos e leigas, levar em frente esse processo de renovação estrutural da Igreja.
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