Jorge Sanglard
Jornalista e pesquisador
Em 25 anos, entre a década de 1990 e os últimos anos, Juiz de Fora saiu de 4,4 homicídios por cem mil habitantes para 28,4 homicídios por cem mil habitantes, apresentando um aumento de 238%. De uma cidade pacífica e ordenada, Juiz de Fora viu explodir a taxa de homicídios. Assim, deixou o grupo das cidades menos violentas do país e poderá, em breve, estar no noticiário nacional como mais um caso de fracasso na segurança pública. Enquanto Rio e São Paulo ultrapassavam a barreira dos 40 homicídios por cem mil habitantes no mesmo período, São Paulo reduziu 77%, de 53,6, em 1999, para 12, em 2012. Portanto, é preciso estudar profundamente o que ocorre na cidade, que tinha um padrão quase uruguaio de violência na década de 1990 e passou a conviver com índices alarmantes. Até o dia 23 de novembro de 2016, a cidade já contabiliza 140 assassinatos. Em 2015, ocorreram 131 homicídios. No mesmo período, tinham ocorrido 141 assassinatos, em 2014, e 139 assassinatos, em 2013. Os dados estão sendo analisados pela presidência da Comissão de Segurança Pública da Câmara Municipal, que integra o Laboratório de Estudos da Violência em Juiz de Fora.
Leandro Piquet Carneiro, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo, vem acompanhando atentamente o aumento da violência em Juiz de Fora e o crescente número de assassinatos na cidade a partir de 2010. Segundo o pesquisador, se nada for feito pelo estado e pela sociedade, a meta para 2017 será fixada pela “mão invisível” do crime, por centenas de traficantes de drogas ou por jovens em busca de vingança, uma vez que o número crescente de homicídios alarma a cidade. Apenas nos três primeiros meses de 2016, já tinham ocorrido mais crimes violentos do que em todo o ano de 2006. E, o pior, aponta o estudioso: em 2013, ocorreram 139 homicídios na cidade, o que equivale a uma taxa de 28,4 homicídios por cem mil habitantes, situando Juiz de Fora acima da média nacional, que, em 2012, foi de 20,4. Dez anos antes, a taxa de homicídios na cidade era de 8,4 por cem mil habitantes. Porém o país melhorou entre 2003 e 2012, graças à diminuição dos homicídios em São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco.
Os números de Juiz de Fora desafiam os gestores públicos e a sociedade. Pouco foi feito de concreto para enfrentar essa triste realidade, enfatiza Leandro Piquet Carneiro, e 2016 terminará com um índice de assassinatos ainda pior do que o ocorrido nos últimos dez anos – o que equivaleria a um novo aumento na taxa de homicídios por cem mil habitantes. Até agora, 2016 mostra um aumento no número de homicídios. A OAB Subseção Juiz de Fora, a Comissão de Segurança da Câmara Municipal, a UFJF e a Prefeitura de Juiz de Fora criaram o Laboratório de Estudos da Violência, abrigado junto ao Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da UFJF, visando pesquisar, debater e enfrentar a realidade do aumento da violência. A pergunta feita em outras cidades que reduziram a criminalidade violenta precisa ser feita em Juiz de Fora ao Poder Público e às organizações da sociedade civil que se mobilizaram diante do problema: – Qual é a meta de homicídios para 2017? A cidade continuará refém desta triste realidade violenta e da matança sem fim?