Diante do progressivo enfraquecimento, nas consciências e na sociedade, da percepção da absoluta e grave imoralidade da eliminação direta de qualquer vida humana inocente, o Magistério da Igreja Católica reprova com firmeza o aborto, porque “a decisão deliberada de privar um ser humano inocente da sua vida é sempre má do ponto de vista moral, e nunca pode ser lícita nem como fim, nem como meio para um fim bom” (Papa São João Paulo II: EV nº 57). Desde o século I (como atesta o documento extrabíblico mais antigo denominado Didaké), a Igreja Católica rejeitou todo aborto voluntário. Este ensinamento é imutável e por isso permanece invariável ao longo da história bimilenar da Igreja.
A Igreja não ignora o fato de que, muitas vezes, a opção de abortar reveste para a mãe um caráter dramático e doloroso. Nem sempre a decisão de abortar é tomada por egoísmo ou comodidade. Claro que tal dramaticidade nunca pode justificar o aborto, porque ele é um ato em si mesmo injusto. Mas as circunstâncias, embora não possam tornar boa ou justa uma ação má em si, podem atenuar a responsabilidade do agente. Neste sentido, a Igreja ensina que “a imputabilidade e a responsabilidade de uma ação podem ficar diminuídas ou suprimidas pela ignorância, inadvertência, violência, medo, hábitos, afeições imoderadas e outros fatores psíquicos ou sociais” (Catecismo da Igreja Católica nº 1735). Também é importante lembrar que “não há pecado algum, por mais grave que seja, que a Santa Igreja não possa perdoar. Não existe ninguém, por mau e culpado que seja, que não deva esperar com segurança seu perdão, desde que seu arrependimento seja sincero” (Catecismo da Igreja Católica nº 982).
Certa vez, o memorável Papa São João Paulo II assim escreveu para as mulheres: “Um pensamento especial quereria reservá-lo para vós, mulheres, que recorrestes ao aborto. A Igreja está a par dos numerosos condicionamentos que poderiam ter influído sobre a vossa decisão, e não duvida que, em muitos casos, se tratou de uma decisão difícil, talvez dramática. Provavelmente a ferida no vosso espírito ainda não está sarada. Na realidade, aquilo que aconteceu foi e permanece profundamente injusto. Mas não vos deixeis cair no desânimo, nem percais a esperança. Sabei, antes, compreender o que se verificou e interpretai-o em toda a sua verdade. Se não o fizestes ainda, abri-vos com humildade e confiança ao arrependimento: o Pai de toda a misericórdia espera-vos para vos oferecer o seu perdão e a sua paz no sacramento da Reconciliação (Confissão). A este mesmo Pai e à sua misericórdia, podeis com esperança confiar o vosso menino” (Papa São João Paulo II: Encíclica Evagelium vitae nº 99).
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