Amigo do ministro Geddel Vieira Lima há mais de duas décadas, o presidente Michel Temer já avisou a interlocutores que não vê razão para tirar o chefe da Secretaria de Governo do cargo, a despeito do lobby feito por este para aprovar um prédio de luxo em Salvador, denunciado pelo ministro da Cultura, Marcelo Calera, que acabou pedindo demissão. Ele considerou tratamento técnico a decisão do Iphan, que negou a autorização, não vendo outros motivos para mexer na sua equipe. O presidente sequer esperou a manifestação do Conselho de Ética da Presidência, que, por maioria de seus membros, decidiu investigar o ministro.
Quando seu ministro Henrique Hargreaves foi acusado de lobby, o então presidente Itamar Franco não o demitiu, mas recomendou que se licenciasse até o fim de investigações pedidas pela própria Presidência da República. Ele provou sua inocência e voltou ao cargo. O presidente Temer, que chegou ao posto em situação semelhante à de Itamar, sucedendo o titular também cassado pelo Congresso, deveria adotar a mesma postura, evitando, com isso, um desgaste desnecessário em nome de uma amizade. Itamar também era amigo de Hargreaves, mas não titubeou nem um instante para exigir seu afastamento.
A fidelidade do presidente é, antes de tudo, com o país, mesmo que se louve à proximidade dos amigos, mas a leitura que se faz é de um chefe de Governo escudado em seus conhecimentos jurídicos para garantir seus gestos. Recentemente, o mesmo Temer criticou os estudantes por protestarem contra a PEC que reforma o ensino, dizendo, com ironia, que a maioria não sabia, sequer, o que era uma Proposta de Emenda Constitucional. Esse tipo de arrogância é desnecessário, sobretudo por não ajudar no relacionamento com as ruas. Ao contrário, ela foi a base para a sociedade apear Collor do poder, pois ele também achava que tudo podia por estar no cargo.
Entra ano e sai ano, chega o período chuvoso, ocasionando interrupções no fornecimento de energia elétrica, e, como não poderia deixar de ser, as áreas rurais de Juiz de Fora são as mais susceptíveis porque são distantes do perímetro urbano. Por consequência, existe sempre uma maior morosidade técnica para que o problema seja resolvido em um curto espaço de tempo.
É compreensível que as fortes chuvas acompanhadas de rajadas de ventos, relâmpagos e trovoadas fragilizem o fornecimento de energia elétrica na Zona Rural, mas, ao mesmo tempo, torna-se incompreensível a demora de se recompor o sistema de transmissão, porque existem propriedades rurais que chegam a ficar de dois a cinco dias sem luz na região. Além do desconforto e da insegurança gerados, haja vista que tem crescido o número de assaltos nos sítios, temos ainda um forte impacto negativo na economia regional: o leite que azeda por falta de refrigeração.
Os produtores de leite sofrem quando a Cemig demora em restabelecer a energia elétrica: o resfriador de leite não consegue manter a temperatura adequada para a conservação do produto, as ordenhadeiras mecânicas não funcionam, e a impossibilidade de se ordenharem as vacas pode causar problemas de saúde para os animais. Com a falta desta prestação de serviço, centenas de milhares de litros de leite são jogadas fora todo ano, castigando ainda mais o produtor que atua no campo e que ainda é mal remunerado pelo leite produzido, apesar de ser o elo mais importante da cadeia produtiva.
Por outro lado, a nossa concessionária de energia precisa rever suas redes de transmissão nas zonas rurais, para evitar que um possível sucateamento da malha da rede elétrica ocasione transtornos irreparáveis para a produção leiteira do município. Se não existem investimentos e/ou há falta de pessoal, que a Cemig trate de resolver o problema, porque todos nós sabemos que a Zona da Mata possui fortes bases econômicas no setor agropecuário, e, como tal, a Cemig precisa sedimentar uma parceria confiável com os produtores de leite.
Curiosamente, temos produtor de leite que recorreu ao Procon, mas a demora na resposta da Cemig pode chegar a, até, 15 dias. Somado a isso, vem ainda o transtorno advindo no deslocamento do produtor até a área urbana para concretizar sua queixa junto a este órgão de defesa do consumidor.
O setor rural não pode parar por falta de energia elétrica, que é imprescindível para a produção de leite! O produtor rural continuará fazendo a sua parte, produzindo leites e queijos de qualidade para atender a demanda da nossa região e de outras, mas, para que haja competitividade no setor, torna-se imperativo que a Cemig faça a parte dela, senão o leite azeda, e o produtor quebra!