As violências cotidianas contra as religiões de matriz africana não são resultantes da simples ignorância, nem do fanatismo de religiosos cristãos. Sua origem está na construção de uma ideologia que justificou o colonialismo, o massacre de diversas nações africanas e o sequestro de milhões de pessoas para submetê-los à escravidão.
O racismo, em que pese a secular luta de negros e negras, e mais recentemente – nos governos Lula e Dilma – com o desenvolvimento de políticas para promover a igualdade racial, se mantém praticamente inalterado. Perpassa nossa sociedade, determina relações pessoais e tem nas manifestações culturais forte instrumento para a demonização das religiões de matriz africana, atingindo o cerne da identidade afrodescendente – a religião -, uma das mais importantes manifestações culturais de qualquer povo.
Com o aumento da violência, da intolerância, da concentração de renda e da desigualdade, indivíduos que se dizem religiosos, não podendo exaltar o racismo de forma explícita, elegem as religiões de matriz africana como inimigas centrais. A consequência dessa pregação baseada no ódio e na manipulação dos medos e das incertezas de pessoas extremamente empobrecidas e com baixíssima escolaridade é a explosão de violências contra religiosos, templos, imagens e fiéis que apenas exercem o seu direito constitucional de ter e manifestar a sua fé.
O projeto de lei 9.398 de 2017, que emenda o Código Penal no seu artigo 208, protocolado no mês de dezembro na Câmara Federal, visa coibir essas violências, combater a discriminação estrutural/institucional, contribuir para a superação do racismo, promover a igualdade racial e garantir o direito à opção religiosa, pilar fundamental de um Estado laico e de uma sociedade democrática.
Certamente, o projeto contará com o apoio de religiosas e religiosos de matriz africana, de todas as demais confissões religiosas e até mesmo dos não religiosos. Bem como dos verdadeiros cristãos, que seguem os ensinamentos de alguém que só pregou o amor e a tolerância, fez opção preferencial pelos mais pobres e mais humildes e morreu vítima da crueldade dos poderosos e da traição de um homem que também batia no peito afirmando ser seu seguidor, mas o entregou aos carrascos por 30 dinheiros.
Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail (leitores@tribunademinas.com.br) e devem ter, no máximo, 35 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.