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Em defesa da cultura e da história

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A vereadora Laís Perrut voltou a propor um projeto na Câmara de Vereadores (que já foi derrotado em outra ocasião) que pretende “proibir homenagens municipais, como a denominação de ruas e espaços públicos e a construção de monumentos, a pessoas cuja trajetória esteja relacionada à escravidão e a períodos de exceção e anormalidade constitucional da história brasileira”.

Se essa proposta “vingar”, não teremos mais uma rua chamada de “Halfeld” (homenagem ao fundador da cidade), nem outra conhecida como São João (Barão de São João Nepomuceno) e sequer um logradouro com o nome do Barão de Juiz de Fora, primeiro presidente do conselho (prefeito) de Juiz de Fora. Não teremos mais uma rua Barão de Bertioga (fundador da Santa Casa), nem Rua Barão de Cataguases (um dos fundadores do Banco de Crédito Real). O museu Mariano Procópio vai ter de mudar de nome, e o Bairro Retiro (Barão do Retiro) vai ter outra denominação, assim como o Instituto Cândido Tostes, o Bairro Barbosa Lage e o Manoel Honório, pois todas essas pessoas tiveram posse de escravos. Não existirá em Juiz de Fora uma Av. Getúlio Vargas, pois esse foi um ditador, nem a Rua Chanceler Oswaldo Aranha e a escola Municipal Tancredo Neves, ministros dessa ditadura. A Av. Presidente Costa e Silva, então, nem se fala.

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É certo que ninguém apoia a escravatura nos dias atuais, mas, na época que existiu, fazia parte da cultura local, do país e de outras regiões do planeta. Era um contexto histórico diferente, onde essa atividade estava enraizada na sociedade de tal forma que a própria economia da nação dependia dessa abominável prática. “A escravidão era amparada por uma legislação, que, inclusive a constitucionalizava, apesar de não se referir a ela diretamente” (MORAES, 1966, p. 372). Veja, como exemplo, o Barão de Guaraciaba, Francisco Paulo de Almeida, que possuiu diversas fazendas e mais de mil escravos, sendo o primeiro barão negro do império.

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Nossa sociedade é composta de representações e símbolos que fundamentam a constituição da sua identidade, e as culturas locais produzem sentidos com os quais podemos nos identificar e construí-la. Esses sentidos estão contidos em histórias, memórias e imagens que servem de referências. A quebra da estabilidade cultural coloca um território em xeque, os cidadãos locais perdem a referência e a estima por seu território. “Para liquidar os povos, começa-se por lhes tirar a memória. Destroem-se seus livros, sua cultura, sua história. E uma outra pessoa lhes escreve outros livros, lhes dá outra cultura e lhes inventa uma outra História” (Milan Kundera).

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