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O Palace: The End

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O fim do Cine Palace projeta na tela das nossas vidas, em tom melancólico, as palavras do título que assinalavam o término dos seus filmes. Acabou a sessão, acenderam-se as luzes, e os frequentadores da minha geração deixam a sala para voltar à Rua Halfeld de outrora, em busca de tantos outros pontos de referência, na busca proustiana do tempo perdido. Nessa caminhada nostálgica, passaremos pelo Salvaterra e, talvez, encontremos, ali, nas mesinhas de ferro dispostas do lado de fora do bar, alguns amigos que, agora, não vemos mais.

Estará iluminado, ainda, outro cinema da época, o Central, felizmente preservado como um dos mais belos teatros do país. E já terá começado a sessão das dez no velho Glória, com filmes impróprios para menores. A estes estarão reservadas as matinês, que oferecem as séries do Zorro e os eletrizantes bangue-bangues.

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O footing já se encerrou, a essa altura, e apenas, continuarão a perambular pela rua central da cidade uns poucos notívagos, que vêm dos lados da Avenida Rio Branco. Passaram, provavelmente, pelo Astória, o rival do Salvaterra, bem na esquina das vias públicas a que aludi, onde pontificava o Barreto, o sisudo garçom, conhecido pelo bordão com que, habitualmente, se dirigia aos fregueses: “Vai querer?”. Ou, então, se encaminham para a Churrascaria Palácio, onde encerrarão a noite num ambiente sempre acolhedor. Quem sabe, descendo a rua e atravessando a praça do Central, não tomarão o rumo do Faisão Dourado, ao lado do cinema – o tradicional restaurante, que atraía clientes ilustres, de passagem pela cidade, como Juscelino Kubitschek e San Tiago Dantas?

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Tudo passou… Passaram os bondes sem pressa, que cortavam a cidade, dando voltas vadias, como nos versos de Manuel Bandeira… Talvez a última referência dessa época fosse o Palace, que, agora, desapareceu. Dele restará a lembrança dos bons filmes a que assistimos, assim como a recordação de um tempo que deixou marcas, a saudade do que fomos ou da mocidade que se esvaiu. Ficará nos nossos ouvidos o prefixo romântico da canção americana Anniversary Song, que, invariavelmente, antecedia às suas sessões: “Dois corações…”. Nos nossos ouvidos e nos nossos corações, como registro sentimental de uma parte da nossa própria história.

Fico a imaginar como o meu saudoso amigo João Dias Ibiapina, autor de uma crônica magistral sobre a Rua Halfeld, descreveria, hoje, a grande passarela da cidade sem o Palace, sem todos esses pontos simbólicos a que me referi. Mudei eu ou mudou Juiz de Fora? – Perguntaria a si mesmo, parafraseando Machado de Assis. Mudamos todos, sem dúvida; afinal, tudo muda. Não sei se para melhor. Só sei que os que não conheceram a cidade daquele tempo não conhecerão outra igual…

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