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A insegurança do projeto Mercedes-Benz

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Como técnico e assessor da presidência da Cia. de Distritos Industriais de Minas Gerais (CDIMG), participei ativamente do projeto de localização dessa indústria em Juiz de Fora. Primeiramente, houve a assinatura do protocolo de intenções da Mercedes-Benz em se situar neste município, acontecimento solenemente ocorrido na entrada do Palácio da Liberdade com a participação do governador de Minas Gerais, do presidente da CDIMG, Silviano Cansado Azevedo, do prefeito de Juiz de Fora, de secretários de estado e outras autoridades.

Pelo protocolo assinado, o Governo mineiro assegurou à montadora alemã incentivos fiscais e a cessão total do Distrito Industrial II, pertencente à CDIMG e totalmente pronto, faltando apenas alguns detalhes posteriormente cumpridos, como a construção do acesso da montadora à BR-040 e uma pequena ponte que o município de Juiz de Fora construiu ligando a BR-040 até o Distrito Industrial.

A construção da fábrica foi realizada, e o primeiro veículo produzido foi o Mercedes-Benz Classe A, bastante evoluído em relação aos pequenos veículos produzidos pela Volkswagen (Gol) e o outro produzido pela Fiat, que era o Uno. O Classe A da Mercedes já tinha ar-condicionado e direção hidráulica, ainda não disponíveis no Gol e no Uno. Entretanto seu preço era muito maior do que os concorrentes brasileiros como Gol, Uno e o Fiesta. Os brasileiros que estavam acostumados com os chamados veículos pequenos ainda não estavam preparados para a evolução dos chamados “populares” poupadores de gasolina.

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Passados alguns anos, a produção do Classe A tornou-se antieconômica, e a Mercedes começou a produzir em Juiz de Fora um automóvel de luxo de duas portas destinado aos mercados externos com caixas de câmbio automáticas produzidas e importadas da Alemanha. Seu preço era superior aos preços dos automóveis produzidos e vendidos no Brasil. Concomitantemente ao encerramento da produção do Classe A, logo depois, a Mercedes passou a produzir em Juiz de Fora caminhões de porte médio ou de grande porte. Além disso, essa indústria alemã também passou a desembaraçar no porto seco de Juiz de Fora as vans Sprinter produzidas na Argentina. As vans eram alfandegadas no Rio de Janeiro, nacionalizadas em Juiz de Fora e transferidas para Belo Horizonte, de onde eram finalmente distribuídas. O processo de recebimento e desembaraço envolve sempre a burocracia envolvida, o que encarece o preço final. Atualmente, a Mercedes-Benz apenas mantém em Juiz de Fora as pinturas dos caminhões produzidos. São por esses problemas de custos envolvidos que a montadora alemã já estuda transferir o desembaraço das vans produzidas na Argentina para o Estado do Espírito Santo. Além disso, a pintura das cabines dos caminhões realizadas em Juiz de Fora não é tão atraente assim.

Entendemos por que Juiz de Fora inteira está preocupada com o desfecho do projeto Mercedes. Entretanto nenhuma empresa particular resiste aos lucros negativos, inexistentes ou inferiores ao que chamamos de “eficácia marginal do capital”. No entanto, nenhum projeto pode continuar a sua operação se os lucros forem considerados insuficientes. Cada setor ou empresa possui a taxa de retorno que ela considera ideal ou mínima para seus investimentos.

Lembramos que o fator mão de obra é apenas um dos inúmeros fatores de produção. Nenhuma empresa séria trabalha só para dar empregos, e o fator trabalho é importante, mas não é o único. Se a Mercedes de fato for embora para outro estado, é preciso encontrar outra que esteja disposta a investir naquele local. O governador de São Paulo, João Doria, colocou outros incentivos para que empresas como a General Motors não deixem de produzir naquele estado. Porém tanto a Prefeitura de Juiz de Fora como o Governo de Minas não possuem nesse momento condições de dar outros incentivos para a Mercedes-Benz, além daqueles que foram concedidos no passado. Embora apreensivos, vamos aguardar o que acontecerá.

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