Sai a Dilma, por pelo menos 180 dias, e ocupa interinamente a Presidência Michel Temer. O erro da primeira foi a sua inabilidade para com o Congresso Nacional, talvez crendo que, com os votos recebidos nas urnas, conseguiria governar o país sem que obtivesse sustentação política, e deu no que deu. A diferença entre Dilma e Temer é que a primeira não pensa antes de falar, ao contrário do segundo, que pensa.
O presidente interino já começou errando antes de assumir o seu cargo: conversou exaustivamente com políticos e empresários, desprezando os movimentos sociais, os sindicatos, como se governasse apenas para a classe política e a elite deste país. Depois, para piorar a situação, convocou um ministério que desanimou mesmo aqueles que bradaram “Fora, Dilma!” com grande entusiasmo, porque a marca conservadora dos seus componentes ficou bastante aparente, lembrando os tempos da Ditadura Militar com a enigmática frase do logotipo “Ordem e Progresso”. Faltou apenas o “ame-o ou deixe-o”.
No ministério de Temer, as mulheres também foram excluídas, assim como os negros. Não que houvesse a obrigação participativa destes na composição dos auxiliares do presidente interino, mas devido à representatividade deles na sociedade civil e seguindo o caminho da meritocracia, sem dúvida alguma, teríamos expoentes dos dois lados capazes de ocupar pelo menos duas pastas. Entretanto, o que se viu foi um presidente interino nomeando ministros que sedimentassem sua base política, já preocupado na aprovação de suas medidas antipopulares no Congresso Nacional.
Os primeiros dias do novo Governo também foram marcados por idas e vindas e comentários absurdos. O ministro Henrique Meirelles já entrou falando em ressuscitar a CPMF, tão combatida no Governo Dilma. O Ministério da Cultura foi extinto. Faz sentido porque Temer deve ter pensado: “Para uma parcela da população que saiu às ruas protestando a meu favor, porque cultura se a ignorância grassa?” A reforma na Previdência surge no horizonte com uma única expectativa: o povo trabalhador mais sofrido tem que pagar a conta. O ministro da Saúde assume a pasta dizendo que o país não pode mais sustentar os direitos da Saúde, previstos na Constituição. Vai rasgar a nossa Carta Magna? O ministro da Justiça comete a insanidade de dizer que Temer não deveria ter mais a obrigação de nomear o chefe da Procuradoria-Geral da República com base na lista tríplice encaminhada pelos integrantes do Ministério Público. Sob que pretexto? Manipular o Ministério Público? Pobre país! Pobres políticos!
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