Bertrand Russel e Tears For Fears? Rock e filosofia?
Ao final de uma interessante e longínqua entrevista concedida à BBC, o filósofo e matemático britânico Bertrand Russel exortava aos jovens do futuro que: (1) no plano intelectual, fossem o mais metódico e racional possível no trato das questões científicas, acadêmicas, políticas e filosóficas, não permitindo que suas convicções pessoais, por mais nobres que parecessem ser, interferissem no processo; (2) no plano moral, que dissessem sim ao amor e não ao ódio e ao fanatismo, porque o primeiro, dizia ele, é sábio. O ódio é tolo. Daí me recordei de uma canção de 1989, da dupla, igualmente britânica, Tears For Fears.
Dedicada, numa perspectiva crítica, à situação política vivida pela Inglaterra, ou mais precisamente à primeira-ministra Margaret Thatcher, naquele momento, Sowing The Seeds Of Love aborda, sobretudo, as relações entre Estado, sociedade e conduta individual. Em meio a tantos versos falando de democracia e planos de governo, e sobre a importância de uma reflexão sobre si baseada nos conhecimentos disponíveis (“leia nos cantos, nas frestas, há livros para ler”, diz um dos versos), eis que o refrão (grudento, é verdade) apela para… o conselho de Russel: “Tudo é possível quando se semeiam as sementes do amor”. Mais anos 1970 impossível!
Talvez Bertrand Russel dissesse que essa análise poética da política só é facultada aos poetas. A eles é concedida uma liberdade reflexiva menos metódica do que aquela dada aos filósofos e cientistas. E talvez isso seja verdade. Mas uma letra política que versa sobre o amor não parece ser uma contradição com a ideia de que o amor, tal qual defendido filosoficamente pelo próprio Russel, casado com os sentimentos de generosidade e tolerância, pode fazer muito pela vida em sociedade. Mentes e corações abertos, pensemos todos sobre isso. Há livros para ler!
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