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Vende-se uma cidade

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Uma cidade onde a cultura é exceção, já que o estacionamento é mais importante do que a cultura audiovisual, local em que o esporte dá lugar ao consumo, à arquitetura, ao cimento bruto; a sede histórica dá lugar a vagas de carro; o campo de futebol, o lazer, a saúde, o espaço, a iluminação, o vento, o ar e o bem-estar dão lugar a uma praça de alimentação fechada, com ar-condicionado, iluminação artificial e gordurosa.

Um local com planejamento escrito, não cumprido e nunca revisto. Onde o remendo vale mais que o remédio, a prevenção e a correção. Vende-se uma cidade sem identidade, com 500 mil cidadãos sujeitos ao caos urbano, onde veículos são privilegiados em relação aos pedestres, onde se pode construir qualquer prédio, mesmo que irregular, que depois se resolve, mas que, também, pode esperar, porque a lei se ajusta depois aos interesses da especulação imobiliária. Onde quanta água vai precisar levar, quanto esgoto coletar, como as pessoas vão chegar, o impacto viário, a vizinhança ignorada, se o ônibus vai dar conta, se a rua vai aguentar o tráfego, vê-se depois.

Uma cidade em que se destrói ou deixa corroer a história até todos esquecerem em uma fotografia em preto e branco de um blog saudoso. Local em que a esperança só vem de quatro e quatro anos, mas o rumo se perde desde sempre; local em que a qualidade de vida já foi sala de estar e agora é o banheiro de serviço; onde o centro vivo morre de noite, e o bairro residencial cansado acorda ao anoitecer.

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Local em que olhar para o morro, a mata, o Cristo só é possível entre uma fresta e outra de caixotes de mármore. Vende-se uma cidade, a preço baixo, com custo muito alto, onde o crescimento a qualquer custo prevalece sobre o desenvolvimento controlado, onde mananciais de água são esmagados, amassados, agredidos, cercados. Enquanto você lia este texto, a cidade já tinha sido vendida! Juiz de Fora, juízo de fora.

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