Quando meu filho estava no cursinho e ia votar pela primeira vez, chegou incomodado dizendo que um professor ia dar aulas usando a camiseta de um(a) candidato(a) à Prefeitura. Liguei e reclamei. Eles ficaram de conversar lá. Depois soube que, como o cursinho não é uma escola regular, isso era permitido. E o professor continuou a usar a tal camiseta.
Quando meu filho estava na sétima série, encantou-se por uma professora de história. Um dia disse: “Mãe, a B… falou que a gente tem que aprender o máximo possível de história, geografia, política, geopolítica e filosofia para depois poder formar opinião. Ela é trotskista, mas disse que ninguém deve seguir suas ideias. Cada um tem que ter escolha própria”.
Como a professora era vizinha, desci, bati à sua porta, abracei-a e agradeci emocionada. Testemunhava ali a primeira vez em que meu menino abria a cabeça com o auxílio valioso de um mestre. E ele mantém a liberdade de pensar, de opinar.
Na faculdade, era chique ser de esquerda. O DA e o DCE estavam cheios de comunistas e socialistas. Mas nas salas de aula do jornalismo aprendíamos conteúdos específicos. Aprendíamos a escrever. Queriam de nós a informação bem dada, bem redigida, bem pesquisada, sem opiniões. Nesse tempo, a Malu nos abriu a cabeça com seu amor por ensinar, o domínio da matéria, a disponibilidade para todo e qualquer questionamento nosso. Sem nenhum viés ideológico.
Nossas ideias são frutos do que lemos, ouvimos, assistimos, estudamos. Um processo que dura vida afora, que evolui, às vezes, muda. Eu evoluí assistindo Woody Allen, Fellini, Bergman. Evoluí lendo Umberto Eco e Fernando Morais. E “Jornal do Brasil” em casa todos os dias.
Acho um horror que hoje precisemos estar discutindo doutrinação político-ideológica em salas de aula. É um mal do nosso tempo, como foi a censura naqueles anos de faculdade. Ambos os casos tratam de interferência, de intromissão.
Ao mestre cabe instruir, preparar, edificar, abrir caminhos para o livre-arbítrio, para o voo solo. Se não for assim, o professor torna-se, antes de um vetor do conhecimento e da liberdade, um malefício para o indivíduo e para a sociedade.