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HD brasileiro

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Por Tadeu Silva, colaborador

Enfiar na carapuça do boneco presidiário da Fiesp a cara do Aécio Neves é uma operação para um Pitanguy. Cirurgião da elite, vivo fosse, se negaria, presumo, porque poderia arruinar seu negócio. Os bisturis da sociedade brasileira desenharam a aparência da ética com a paleta das aparências entre o bem e o mal. Dispensável explicar cada um, mesmo porque está exposto no jornalismo dito de verdade e nas estatísticas da criminalidade, que delinearam desde os tempos da escravidão a cara de um e outro.

Como uma panela de barro na cozinha do programa MasterChef. Para estar ali, seria feito um comentário que a autorizasse. Um mendigo louro de olhos verdes deitado na sarjeta causaria o mesmo espanto, porque ali é um lugar de preto. No Paraná, resgataram um morador de rua com aparência europeia para o estrelato no Facebook. O drama pessoal, tão respeitável como tantos outros, foi apropriado pelo diferencial da cor.

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Tempos atrás, uma empregada de moradores de um condomínio paulista foi presa porque roubou uma lata de conserva. Depois de alguns meses, continuava presa. A taxa do condomínio era quatro vezes maior que seu salário. Acontece que o marido, biscateiro, tinha quebrado a perna, e o orçamento da família, ido para o brejo.

O velho jogo das qualidades coloridas estampa o quadro da nacionalidade. O cirurgião Adib Jatene, pai da CPMF, imposto insonegável que horroriza a riqueza, desanimado, pediu demissão do cargo de ministro da Saúde. É dele a frase: “O grande problema do pobre não é ele ser pobre, é que o amigo dele também é pobre!”. Ele não tem amigo que fale com quem decide, que marque uma audiência, que o ajude a elaborar um projeto, que negocie financiamento.

Caindo de podre, o panorama da riqueza concentrada entrou em convulsão, num efeito impressionante. Alguém, como no samba, gritou: – Pega ladrão. Nunca a realidade expôs tão bem a diferença entre o ladrão de galinha e o de colarinho branco.

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A estética do crime não deixa de ser uma colaboração gentil da arte, que, na busca desinteressada da beleza, vai aplicando sua técnica no material disponibilizado pela produção do cotidiano. Os artistas pobres captam o motivo a seu modo e nas condições dadas.

Numa descrição geral, a negociação dos elementos constitutivos da paisagem nunca foi tão exposta. Se o mandonismo político e financeiro pendurou na visão da nação sua imagem dominadora, as selfies gerais impuseram presença questionadora. O panorama geral ainda está sendo negociado. Certo é que o quadro da história tradicional corrompida está posto em choque e xeque. A visita de Aécio Neves ao quadrado de uma cela enterraria todo o pano de fundo e estilo da arte política brasileira clássica. No seu lugar, numa hipótese cirúrgica reparadora, a transparência digitalizada da “realidade efetiva das coisas” nossas.

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