A contemporaneidade nos confronta com inúmeras transformações sociais e tecnológicas, mas há um desafio sutil e, muitas vezes, negligenciado: o crescente vício em jogos de azar. Segundo recente pesquisa do departamento de psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), esse comportamento compulsivo atinge mais de dois milhões de brasileiros, um número que exige reflexão e ação imediata.
Por trás desses números, há histórias individuais complexas, vidas marcadas por uma busca incessante por uma recompensa ilusória. O vício em jogos de azar não é apenas uma estatística; são vidas afetadas, famílias desestruturadas e comunidades impactadas.
O jogo, quando casual, é uma forma recreativa e socialmente aceitável de entretenimento. Entretanto, quando essa atividade se transforma em um vício, torna-se uma força devastadora, afetando não apenas a saúde mental do indivíduo, mas também seu convívio social, suas finanças e sua perspectiva de vida.
É vital entender que o vício em jogos de azar é mais do que uma falha moral; é uma condição complexa que abrange dimensões sociais, psicológicas e biológicas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a gravidade desse vício, colocando-o ao lado de dependências químicas como álcool e drogas. Essa inclusão sublinha a necessidade de tratarmos o vício não apenas como uma escolha moral, mas como uma questão de saúde pública.
No pós-pandemia, uma preocupação emergente é o comportamento compulsivo relacionado a jogos eletrônicos em crianças e jovens. O uso excessivo de tecnologia tem sido associado a mudanças no humor, no comportamento e até mesmo no desenvolvimento cerebral. A sociedade precisa acordar para os perigos potenciais desses jogos, especialmente quando consideramos a suscetibilidade do cérebro em desenvolvimento.
Diante dessa realidade alarmante, é imperativo adotar uma abordagem abrangente. A nível pessoal, é crucial que cada um de nós se questione sobre os nossos hábitos de jogo e esteja ciente dos sinais de alerta. Socialmente, devemos investir em campanhas educacionais e preventivas que aumentem a conscientização sobre os perigos desses jogos. A mudança só ocorrerá quando a sociedade como um todo abraçar a necessidade de prevenção e cuidado.
Para aqueles que já estão mergulhados nesse vício, o caminho para a mudança é desafiador, mas não impossível. Tratamentos que abrangem consultas psiquiátricas, psicoterapia, grupos de autoajuda e, em alguns casos, medicamentos, podem oferecer uma rota de fuga.
Nossa sociedade deve adotar uma postura de responsabilidade compartilhada. As instituições educacionais devem priorizar programas de prevenção, os órgãos governamentais precisam contribuir com regulamentações sensatas, e cada indivíduo deve se questionar sobre seus próprios hábitos.
O vício em jogos de azar é uma epidemia silenciosa que se alastra pela sociedade. Não podemos mais nos dar ao luxo de ignorar esse problema. Cabe a cada um de nós, como membros dessa sociedade, fazer nossa parte. Sejamos agentes de mudança, levantando a bandeira da conscientização, prevenção e cuidado. O futuro de muitos está em jogo, e a aposta segura é na responsabilidade e na empatia.