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Minas que sofre

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O presidente da CNBB e arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor de Oliveira Azevedo, escreveu no início do mês de janeiro um artigo que merece ser divulgado. Seguem partes do artigo, que pode ser acessado na íntegra no site www.cnbb.org.br: “Mais uma vez, Minas está ferida, lágrimas no rosto dos pobres, que perderam o pouco que possuíam, o essencial para viver, amparados para não passarem fome, no cenário de um Brasil faminto. Vidas estão perdidas, há luto cobrindo de sombra famílias e corações. Uma dor lancinante no coração do outro que precisa ser assumida como própria dor, gesto solidário de cidadania, alavanca de reconstrução. O clamor surdo que ecoa aos céus denuncia: Minas ferida escancara, nas riquezas de sua cultura, na especialidade de sua gente generosa e solidária, nas riquezas de sua natureza pródiga, no seu patrimônio religioso e familiar, os descompassos que exigem mudanças radicais e urgentes no modo de se governar, na maneira extrativista e depredadora no tratamento do meio ambiente.

A contabilização de tragédias precisa mexer com os brios de governantes, dos representantes e servidores do povo nas casas legislativas, em cada município, no Estado e na esfera federal. Os construtores e os empreendedores da sociedade mineira estão desafiados a crescer na consciência: lógicas gananciosas precisam, urgentemente, ser superadas, para fazer valer a lógica humanística da cidadania. Não se pode continuar a negociar esse patrimônio histórico, religioso, cultural e ambiental, Minas Gerais, por tão pouco, sacrificando o bem dos mineiros. As feridas das tragédias que se sucedem, conhecidas por todos – Mariana, Brumadinho, Capitólio, as enchentes deste janeiro, para relembrar algumas, sem deixar de elencar as rodovias da morte, a exclusão social, a infraestrutura comprometida, a carência de moradia digna -, gritam aos céus. Indicam a urgência de mudanças nos modos de governar, legislar e agir para se alcançar o necessário desenvolvimento integral.

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Mineiramente falando, não basta apenas colocar o “trem nos trilhos”. As feridas no Estado e no seu povo apontam: é preciso fazer mais, aprendendo com os solidários, aqueles que cuidam dos famintos, limpam a lama das enchentes, reconstroem moradias, repartem, com afeição, a força espiritual. Um novo ciclo precisa se abrir sob pena de novas tragédias. Urgente, portanto, é construir mentalidade diferente, que inspire atitudes de governos, legisladores, servidores judiciários, empreendedores e construtores da sociedade pluralista, com a participação efetiva de todos os cidadãos. O ponto de partida inegociável é o horizonte das interpelantes riquezas da ecologia integral, por um adequado tratamento do meio ambiente, a casa comum.

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Urgente e sinal de responsabilidade é intensificar fiscalizações, definir leis mais rigorosas – que não permitam manipulações e subjetivismos interpretativos para flexibilizar a degradação do meio ambiente. Necessidade imediata, fruto da política melhor, é priorizar a inclusão social daqueles que vivem nas áreas de risco, para que sejam contemplados pelo direito fundamental à moradia digna. Essas mudanças dependem de um audacioso plano estratégico delineado pelas autoridades políticas, nas instâncias dos poderes Executivo e Legislativo, com a participação de todos os segmentos da sociedade. Assim, pode-se, efetivamente, conquistar uma sociedade mineira onde vale a liberdade, ainda que tardia, contracenando com a igualdade e a fraternidade. Ante as tragédias, sem medo, sejam identificados os responsáveis, superados modelos de administração que se reduzem a um conjunto de técnicas operacionais, para que prevaleça um humanismo integral – trata-se do caminho para reverter dolorosa realidade – Minas ferida”.

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