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Live a jato

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O 3º mandamento da Bíblia é expresso assim: “Não tomarás o nome de teu Deus em vão”. Só em vãos, ao que parece, cada vez mais disponibilizados pela profissionalização da fé religiosa que privatizou, terceirizou, liberalizou o negócio e prosperou de forma heterodoxa. A televisão avançou a prédica radiofônica até a midiatização eletrônica, verdadeiras janelas de oportunidades para quem, até então, assistia passivamente a prática fervorosa presencial, monopólio dos iniciados autorizados institucionalmente.

Em 1995 o escritor Jorge Amado deu exemplo de respeito e desprendimento ao colocar seu prestígio na publicação de um artigo intitulado “Tomo da cuia de esmoler”, no qual solicitou a várias personalidades da economia ajuda financeira para restauro da sede nova da Irmandade da Boa Morte, Cachoeira (BA). Segundo o jornalista Zé de Jesus Barrêto, obteve êxito, mas o que interessa aqui é a intenção, o gesto, o estilo e o modo. A internet apenas engatinhava.

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Desenvolvida, a internet sofisticou, a digitalização total facilitou, a fé virtual, não espiritual, explico, vingou e acaba de explodir em Pix. Como se dizia nos tempos analógicos, para quem recebia uma herança vultosa, acertava na loteria, ganhava na roleta ou no jogo do bicho, arrebentou a boca do balão. Na perspectiva crematística, econômica, que remete ao pagamento do dízimo, ofertas e contribuições, mendigos obviamente fora, é razoável para os pobres, devido ao ostensivo abandono do mundo, aberração existencial com danos psicossociais, mas com evidente equilíbrio financeiro, no caso brasileiro, verdadeiro milagre.

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Continuando, é conveniente aos remediados, pois permite acessar itens promocionais e ascensionais da hierarquia litúrgica, como subir a escada do altar/palco em testemunho, tirar self com autoridade reconhecida, gravar um vídeo, angariar prestígio, almejar promoção, ingressar, p. ex., na política etc. Nessa escalada as energias que organizam a sistemática e o rito vêm da mesma ideia-força que controla a sociedade e sua estrutura classista.

O Pix, ferramenta de pagamento eletrônico instantâneo, facilitou o trânsito financeiro, eliminando a intermediação de pessoal, burocracia, meios físicos, como cartões e maquinário. Tanto que o bordão “Faz um Pix aí!” viralizou nas redes e no cotidiano das transações. Na compra de um simples cafezinho ou de um veículo SUV, está lá o cartaz, “aceitamos Pix”. A convergência religião, economia e política não escapou das demandas mundanas de inovação que utiliza no modo adaptado às necessidades da respectiva liturgia.

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Exemplo do sucesso da inovação tecnológica deu o ex-procurador e deputado cassado Deltan Dallagnol, que, depois de tentar sem sucesso em Brasília a manutenção do mandato, ainda no voo em que deixou a capital federal, contactou e foi contactado, é o que afirmou, pela divindade. Depois de fazer três perguntas e obter respostas que tratou como autorização superior, gravou um vídeo em testemunho, publicou, e o resultado, rápido como um raio, repercutiu e refletiu na sua conta da forma exibida na tela de seu celular como uma cascata de doações, parecendo uma roleta eletrônica de cassino, para pagar uma multa de 3 milhões recebida do TCU, verdadeiro milagre da fé na pixação.

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