Liberdade, igualdade e fraternidade, antigos sonhos de um povo europeu que a tantos contagiaram, acabando por se tornarem uma utopia aos olhos do mundo. Mas, sob o olhar atento de Allan Kardec, essas três palavras são por si sós o programa de uma ordem social, capaz de realizar o absoluto progresso da humanidade. Não sendo ainda uma realidade palpável, quais obstáculos impedem esse progresso? Quais os meios para removê-los?
Desobedecendo a ordem do slogan da Revolução Francesa, iniciaremos pela fraternidade, que, na rigorosa acepção da palavra, resume todos os deveres de cada pessoa para com os semelhantes: devotamento, benevolência, indulgência. Kardec afirma ser ela, a fraternidade, a caridade evangélica por excelência na aplicação da máxima: “fazer ao outro aquilo que queremos que o outro nos faça”. O obstáculo é o egoísmo.
A fraternidade proclama: um por todos e todos por um, enquanto o egoísmo afirma: cada um por si. Esses dois princípios, sendo um a negação do outro, tanto impedem que o egoísta seja fraterno quanto o avarento de ser generoso. Na convivência diária, há um egoísmo social, e, enquanto ele dominar, será impossível constituir-se uma verdadeira fraternidade. E, sem ela, não se completa a trilogia; pois a igualdade, assim como a liberdade, decorre de uma convivência de fraternidade.
É comum ouvir alguém chamando o outro de irmão. Isso é muito mais que semelhança racial ou igualdade de credo. Irmão é aquele para o qual dedicamos o mesmo que para nós, é o lidar e sentir de igual para igual. Qual o inimigo da igualdade? O orgulho, esse que trabalha para dominar e oprimir. E a liberdade, já que todos somos livres, segundo as leis de Deus, é filha da igualdade e da fraternidade e frutificará espontaneamente na prática dos direitos iguais e no bom ânimo do recíproco sentimento de benevolência. Praticando a justiça em todos os âmbitos da vida, não há o que temer nem recear um do outro, e a liberdade assume seu caráter primeiro, o de ser inofensiva, porque não agiremos em prejuízo do semelhante.
Os três princípios, liberdade, igualdade e fraternidade, são solidários entre si e apoiam-se mutuamente. Sem eles, a construção social é incompleta. Os impedimentos, para a consolidação desses ideais, não estão no próximo, mas sim em nós. Para remover o egoísmo e o orgulho, precisamos seguir os ensinos de Paulo, o apóstolo: “ame, trabalhe e perdoe”.